O DIA DO TERROR I
Sempre questionei o fato das peraltices de meninos receberem mais atenção e comentários, para mim prova apenas que eles não são capazes de realizar feitos sem que os adultos percebam. Eu mesma aprontei tantas coisinhas desonrosas para uma pequena e ingênua menina, nestes momentos, os irmãos possuem uma utilidade perfeita: receberem a bronca no nosso lugar. Costumava ser assim, mas que culpa tenho de Luiz ser menino medonho, como já dizia minha avó, vivia aprontando e sendo descoberto, logo, se não viram quem fora o responsável por tamanho feito, era ele o culpado. Foi assim uma vez quando voltávamos da padaria, pressionei a campainha da casa de Dona Jaci, velha ranzinza do nosso bairro, e saí correndo, a velha saiu à porta e gritou "Luiiiiiiiizzzzz" e assim se foi o sábado do meu irmão, longe do super Nintendo e do futebol. Outra vez substitui, no pote, a farinha de mandioca pela farinha Láctea: "Luiiiiiiiizzzzz" gritou desta vez o meu pai. Mas, com o tempo, Luiz começou a defender-se, pouco lhe servia, pois a fama que galgara era maior que todos os seus argumentos. Certa vez, me decidi a prega-lhe uma peça, estávamos sós e a luz do sol que penetrava a casa através das fendas das telhas formava nas paredes desenhos cuja imaginação forjei para que fossem horrendos, e assim iniciou-se a nossa história de terror. "Luiz, você está vendo aquilo ali? Ah! O que é isso? Olhe Luiz, um fantasma, veja, ele está vindo em nossa direção ahhhhhh" os meus gritos e espantos tão convincentes foram capazes de produzir uma cena inédita, aquele pestinha que sempre me aborrecia, detentor de um discurso influenciado pelos filmes de super herói estava ali na minha frente apavorado, trêmulo, chorava, urrava, clamava por socorro. Eu era sua única ajuda, a única capaz de lhe socorrer, naquele momento eu era sua super heroína; então o peso da responsabilidade caiu sobre minha consciência. Tremi e passei a ver todos aqueles fantasmas vindo em nossa direção, gritamos juntos, sentamos no sofá, nos abraçamos, juramos que se sobrevivêssemos nunca mais aprontaríamos um com o outro, jurei nunca mais deixá-lo pagar por erros meus, ele jurou não quebrar meus brinquedos, nem jogar meus sapatos para o outro lado da rua. Naquele instante uma nuvem cobriu o sol e ouvimos um barulho na porta, nossos olhos encheram-se de lágrimas, fizemos declarações de amor que só os irmãos são capazes de fazer, nos beijamos e declaramos um ao outro que possuíamos o melhor irmão e irmã do mundo, nos abraçamos ainda mais fortes e fechamos os olhos. O barulho na porta aumentou, apenas ouvimos que alguém abria a porta e caminhava em nossa direção, quando uma mão nos tocou gritamos apavorados "que houve crianças, vocês estão bem?" Era a mamãe, neste instante empurramos-nos um ao outro, apontamos o indicador um para o outro e como numa sinfonia dissemos simultaneamente "a culpa é dele(a)".