CHIFRE NÃO DÓI
CHIFRE NÃO DÓI.
GAMA GANTOIS
Havia um mês que Apolônio tinha se casado com Jurema. Estava nos melhores dos mundos. Jurema não sabia o que fazer para agradar o marido. Apolônio não cansava em dizer que casamento era a melhor coisa do mundo. Meus amigos, dizia, todos os homens devem se casar.
O tempo foi passando e a rotina começou a ser a tônica daquele matrimônio. Nenhuma relação resiste à rotina. Ela é o câncer da relação.Não há quem aguente monotonia, de uma bodas.
Pois bem. Jurema saturada pela mesmice começou a se modificar. Passou a tratar seu cônjuge da pior maneira possível. A vida conjugal de Apolônio era, de fato, de uma falta de imaginação tremenda. Descontado o período inicial, nunca mais fora bem tratado. Sofria as mais graves desconsiderações, inclusive na frente de visitas. Certa vez, durante um jantar com outras pessoas, ela o fulmina, com a seguinte observação, em voz altíssima
- Apolônio pare de palitar os dentes, sim? Isto é nojento!
Envergonhado, o marido retirou-se da mesa e foi terminar a sua refeição sozinho na cozinha. Após dois anos de convivência matrimonial, Apolônio nada mais esperava da mulher, a não ser patadas semelhantes a ocorrido durante o jantar. Sua vida estava um inferno. Se passasse dez minutos da hora do jantar ia dormir em jejum, pois, Jurema trancava tudo no armário o qual só ela tinha acesso. Apolônio amaldiçoava a vida de casado. Sua opinião sobre o casamento mudara radicalmente. Passou a pregar que o homem deveria se casar com o celibato.
Sexo à quase um ano que o casal não praticava. Jurema dizia ter nojo do ato sexual, inclusive passou a dormir em quarto separado. Viraram irmãos.
Certo dia, Apolônio resolveu se abrir com César, seu grande amigo e conselheiro sentimental,sobre a sua situação. Entraram num bar e entre uma loira gelada e uma batatinha frita, Apolônio foi desfiando o seu rosário. Então, para a sua surpresa, César ao longo da sua experiência, foi dizendo, ao amigo:
- — Você sabe que eu sou casado, claro. Muito bem. E, além da minha experiência, vejo a dos outros. Descobri que toda mulher honesta é assim mesmo.
— Assim como? O amigo continua:
—. Você, meu caro amigo, desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A mulher virtuosa é triste, azeda e neurastênica
— Tem dó! Essa não! E repetia, de olhos esbugalhados, lambendo a espuma da cerveja:
— Essa, não!
Mas amigo insistiu. Veja o nosso exemplo. Quando arranjamos uma amante como tratamos as nossas esposas? Com carinho, amor, com gentileza e mimo.A nosso consciência está pesada. Carregamos todas as culpas do mundo Nessas ocasiões, nós lhe presenteamos com aquele anel brilhante, sempre negado. Com aquela viagem tão esperada e jamais realizada. Entendeu o que estou dizendo? As mulheres fazem a mesma estratégia.Trata o corno com todo o carinho, com toda gentileza.Já a honesta, não. Você é um homem de sorte. Jamais será corno, enquanto a sua mulher lhe tratar da maneira estúpida, grosseira, entendeu?
Conformado e mais tranqüilo se despediu do amigo.
A TRANSFORMAÇÃO.
A conversa com amigo César demorara um pouco. Assim, Apolônio perdera a hora do jantar. Para não ficar em jejum, passou no bar do seu Oliveira, e comprou para a viagem, um belo sanduíche de pernil.
Ao chega á casa uma surpresa lhe esperava. Jurema, perfumada, sexy, o esperava com a mesa posta, com todas as iguarias preferidas do marido. O que houve? Será esta a última refeição do condenado á morte? Perguntou à esposa!
- Sossega o periquito. Mudei meu filho, mudei muito e mudei para melhor.
- Qual a causa desta mudança?
- Não sei meu bem, não sei, só sei que mudei.
Naquela noite, Jurema foi pra cama do marido. Tiveram uma noite de amor, mil vezes melhor da que tiveram na lua de mel. Apolônio estava atônito e feliz com a transformação da esposa.
No entanto, havia uma preocupação em sua mente . Apolônio pensava. Esta maravilha é só hoje. Amanhã todo volta ao normal. Muito pelo contrario. A cada dia que passava Jurema ficava mais meiga, mais amorosa. Uma coisa que batia no seu coração
era qual seria causa de tanta mudança?.
Um domingo após o café da manhã recebeu uma carta. Esta dizia que a sua mulher, Jurema, se encontrava com o seu colega de trabalho Rogério, num apartamento no Grajaú. Dava número do edifício, horário endereço tudo certinho. Indignado rasgou a carta em mil pedacinhos e continuou a sua vida de felicidade.
Dias depois, ao chegar à repartição tomou conhecimento da noticia bomba. Rogério ficara noivo de Adelaide. Apolônio tremeu na base.O mundo desabou sobre a sua cabeça. Imediatamente pensou na sua situação. Foi correndo pra casa. Quando chegou encontrou a mulher deitada de bruços chorando copiosamente. Não conversou. Ele já sabia o que tinha acontecido. Abriu a gaveta, pegou um velho trinta oito, e foi à casa do Rogério. Este ao vê-lo começou a ficar nervoso. Sem perder muito tempo, Apolônio foi logo dizendo.
_Seu canalha, vagabundo. Como você me faz uma traição desta logo comigo.?
Tremendo de medo, Rogério balbucia:
- O que eu fiz?
-Você vai fazer o seguinte.Vai pegar esse telefone agora, se não quiser morrer e desmanchar esse noivado, agora.!
- Sem alternativa, Rogério liga para ex-futuro sogro e desmancha o noivado.
Satisfeito com o que ouviu Apolônio, o convida para jantar em sua casa, naquela noite.
Avisou a esposa que teria Rogério como convidado para jantar. Quando chegaram, Jurema já estava com outro astral.
Durante a refeição Apolônio surpreendeu a esposa dizendo.
_Querida. A partir de hoje, Rogério vai morar aqui conosco.
À noite nos braços do marido, Jurema numa alegria de colegial dizia:
_ Querido você é um amor. Você não existe.
-Amor, a gente faz o que pode. Quando se ama, chifre não dói!
-