Debaixo da "sapucaia"

Todas as tardinhas as crianças da vila tem o costume de irem para a rua. Pode fazer sol ou chuva que lá estão elas e suas brincadeiras preferidas. Entre elas, o mais medroso é Raimundinho.

Imaginem este garoto saindo correndo e gritando pela rua afora ao anoitecer. "Corram, corram!... Eu vi o homem do saco ali."

Foi isto mesmo que aconteceu com o Raimundinho no momento em que ele avistou um velhote deitado debaixo da árvore.

Para ele neste dia, o fim da brincadeira tinha chegado mais cedo.

Estava quente ainda naquela tarde em nossa terra, onde o sol procurava dar o seu adeus com seus raios amarelados e brilhantes. E ali estava ele, Armando Braga, todo tranquilo descansando de mais um de seus dias de labutas.

Armando Braga trilhava sem destino por este mundão afora carregando no ombro o seu bastão e uma trouxa dependurada por detrás de suas costas. Com seus pés descalços e sua barba branca, o velho usava um gorro vermelho como cobertura do sol em sua cabeça. As vezes parava para descansar após encontrar um bom local onde podia sentir seguro. Tinha um casaco longo para proteger seu corpo do frio e disfarçar o seu barrigão.

Nesta sua parada aqui, ao chegar neste jardim central, foi logo procurando se acomodar. Encostou seu corpo cansado em um velho tronco para sentir o frescor da sombra, a qual ia se misturando com o anoitecer.

Debaixo da grande árvore, Armando Braga se ajeitou. Por sinal esta é a única árvore até hoje preservada neste largo do nosso pequeno povoado.

Ele sabia que para uma boa recuperação de sua energia, tinha mesmo que tirar o seu casaco longo e forrá-lo sobre a vegetação rasteira e tirar uma soneca, pois este é o seu sagrado momento de conforto e paz.

Bem longe ainda, este corpo deitado debaixo da "sapucaia", podia ainda ouvir vozes de crianças em forma de ecos.

Mesmo assim, o silêncio da noite foi mais forte e acabou dominando o bom velhinho.

Manoel Ferreira Abrahão
Enviado por Manoel Ferreira Abrahão em 30/12/2015
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