o velório

O VELÓRIO.

GAMA GANTOIS

Chegara ao velório com a cara amassada pelo sofrimento, os olhos vermelhos de tanto chorar. Dava pena ver aquele homem carregar tanta tristeza. Em pé diante do caixão da falecida olhava fixamente para o rosto sem vida da sua esposa. Lá estava ela com as mãos entrelaçadas, sobre o peito, pés unidos iluminadas por quatro velas. De quando em quando balbuciava:

- Isto não está acontecendo. È um enorme pesadelo. Daqui a pouco estarei despertando e vou encontrar Cecília na cozinha preparando o meu desjejum. Penalizado surgia um amigo ou parente para lhe transmitir palavras de encorajamento

- Calma amigo. O tempo é melhor remédio para esquecermos as grandes dores.

- E quem foi que disse que quero esquecer?

Duas vizinhas gordas e patuscas que ouviram o diálogo comentaram:

- Como era lindo o amor desses dois. Dá pra se vê que ela era o grande amor da sua vida.

- Não há a menor dúvida.

Heitor estava desesperado. Beijando o rosto da morta dizia em bom português:

- Me aguarda amor. Assim que puder estarei contigo na eternidade.

Não havia uma única pessoa no velório que não se emocionasse. A família de Heitor começou a se preocupar com o seu estado de saúde.

Às onze horas da manhã, saiu o enterro. E, então, foi uma tarefa hercúlea controlar a dor furiosa de Heitor. Ele se auto flagelava, castigando o próprio rosto com suas mãos. Se atirava no chão num gesto absurdo. Fechou a porta da capela para impedir a saída do corpo.

Depois de algum tempo nesse desespero finalmente Heitor se acalmou e o féretro prosseguiu. Na hora do sepultamento mais um show de Heitor. Queria porque queria ser enterrado com a falecida.

Foi um custo para contê-lo. Os pais da morta estavam admirados com tanta paixão, tanto amor.

Aos poucos um a um foram deixando o cemitério. Heitor foi o último a deixar aquele local.

Quando chegou a casa foi direto pro chuveiro. Depois, escolheu a sua melhor roupa, tirou o carro da garagem e foi direto dançar na gafieira Estudantina, onde esperava sua a amante Ritinha. Dançaram rindo e bebendo até as quatro da manhã.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 29/12/2015
Reeditado em 04/02/2016
Código do texto: T5494870
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