O PRESTATIVO JOAQUIM
Joaquim morava na vila dos pescadores Mar sem Fim. A comunidade tinha uma grande admiração por ele. Uma de suas qualidades era a presteza com quem tratava a todos daquele longíquo lugar. A população deste lugarejo tirava todo o seu sustento do mar. O cardápio daquela vila de pescadores atendia até aos gostos variados e requintados dos turistas. Os peixes, lagostas, camarão, ostras, entre outras iguarias eram negociadas com a associação dos pescadores. Esta associação era presidida pelo prestativo Joaquim. Ele atendia as principais demandas dos pescadores, donas de casa e trabalhadores braçais. As demandas eram desde empréstimos sem juros a assistência médica nos momentos difíceis. Quando um morador necessitava de alguma ajuda para reformar a casa, uma garagem, prontamente o Joaquim mobilizava um grande mutirão. Outro caso recorrente era no falecimento de algum morador. O Joaquim providenciava todos os trâmites para o sepultamento do falecido. Durante quinze anos não houve alternância na presidência daquela associação. Ali não havia candidato ao referido posto. Ao mesmo tempo os pescadores não queriam substituir o querido presidente da associação. Mas no verão de 1999 surgiu um candidato que disputaria a eleição da presidência da associação dos pescadores. Moacir era o filho de um dos pescadores daquela região. Ele voltava de uma viagem de estudos. Moacir formou-se no curso de turismo no exterior. O filho do pescador trazia ideias inovadoras para o desenvolvimento da vila dos pescadores. O objetivo dele baseava-se na captação de recursos estrangeiros para modernizar o lugar. Mas ele enfrentava resistência dos pais. Eles preferiam a continuidade do que uma nova administração. O prestativo Joaquim sentiu-se ameaçado pela concorrência, e deturpava as propostas que o opositor apresentava à comunidade. Houve a eleição e o vencedor foi o presidente atual. Mas Moacir trouxe à tona algumas irregularidades praticadas pelo candidato vencedor. Algumas verbas enviadas pelo Governo Federal não chegaram aos cofres da associação. Os recursos seriam destinados à reforma de barcos. A contabilidade da associação também estava irregular. As planilhas de prestação de contas foram alteradas e ocorreu ainda super faturamento na reforma da sede da associação. Os pescadores foram informados sobre as tais irregularidades, mas a maioria achou aquilo natural. Afinal de contas as coisas estavam funcionando bem. O desvio de dinheiro, para eles, era uma recompensa aos bons serviços prestados por Joaquim. Alguns deles afirmaram que todos os desvios credenciava-o a continuar o trabalho. Um dos pescadores ainda disse: - Ele fez isso, seu dotô, mas foi só dessa vez e não faz mais não.