ARROZ COM FEIJÃO... E NENHUM TOSTÃO!
Dizem que a fila anda, e ele, aguardava impacientemente a fila andar.
De senilidade avançada- talvez uns oitenta -e a face esgotada pelo cansaço de tudo, há dias acompanhava a esposa numa enfermaria dum hospital público, aonde dormia sentado numa cadeira de madeira rústica.
Na fila do refeitório, chegara enfim sua vez de apresentar a credencial que lhe dava o direito ao jantar de acompanhantes, um prato de arroz com feijão, acompanhado de macarrão, dum bife de gorduras saturadas cremadas, e dum suco de corantes, conservantes e acidulantes...que todo orgulhoso... fingia ser laranja.
A funcionária responsável pelo controle da entrada, também faminta de tudo, disparou-lhe um discurso público:
-Cadê a senha?
-Senha?- perguntou ele timidamente.
-Sim, ainda não aprendeu que tem que ter o cartão de acompanhante?
-Ah sim, ficaram de me fornecer outro, fui assaltado e me levaram aquele.
-Hum... qual o nome do seu doente?
*-Maria das Dores da Silva Santos e Silva, quinto andar, leito onze.
-Sinto muito, não consta na minha lista de hoje...
-Mas senhora...balbuciou quase desesperado...
-Tá bom , tá bom, não precisa chorar! Hoje vou deixar “você” comer, mas só hoje, viu?...amanhã trate de procurar o serviço social para a autorização. Senão...amanhã não come não!
Agradeceu de coração! Catou o bandejão, serviu-se do banquete, baixou a cabeça, e ao mastigar, mais parecia ruminar a vida.
Na saída do refeitório, parou para olhar um anúncio administrativo pregado na entrada do hospital:
NOSSA MISSÃO É HUMANIZAR. Qualquer reclamação ou sugestão, coloque na urna ao lado.
De nada lhe adiantaria aquele recado.Nunca soube ler...nem escrever!
Mas a ele só caberia agradecer, afinal, momentaneamente havia saciado a fome.
Baixou a cabeça novamente, subiu as escadas, e se perdeu pela quase vida...
*(Conto verídico, nome fictício).