Vazio

Às vezes ele parava no meio da noite e ficava imaginando que era vazio.

As pessoas lhe eram estranhas, as coisas não faziam sentido, era incompreendido.

Olhava para as estrelas e as via em dobro, porquê estava bêbado. Então imaginava sua vida em um universo paralelo, onde tinha tudo o que queria. Onde sabia o que queria.

O vazio era a perdição. Porque poucas coisas são piores do que se perder dentro de si mesmo.

Uma vez lhe disseram que era feio sentir. Que a frieza era a solução. E ele levou como verdade absoluta que sentir era vergonhoso.

Até que um dia, na beira de um penhasco dentro de sua mente, ele sentiu.

E lutou.

E sentiu de novo

E lutou contra.

Então sentiu e lutou e sentiu e lutou e sentiu de novo. E cedeu.

Lhe disseram que era feio, inaceitável. Que sentir não era bom e que devia parar. Algumas pessoas se afastaram dele, mas no fundo, todas elas tinham apenas medo de mergulhar. Porque sentir não é pra qualquer um. Você nunca sabe onde vai cair. Mas ele foi corajoso o suficiente para se entregar.

Ele se machucou porque sentiu. Mas não porque era feio sentir, e sim porque foi incompreendido. As pessoas não sentiam o mesmo que ele.

Mas mesmo sentindo, ainda era vazio. Se perdeu nos labirintos da própria mente enquanto procurava uma saída. As pessoas lhe diziam o caminho, mas todas pareciam estar perdidas também.

Ele procurou a saída sozinho. Talvez as pessoas estejam apenas convictas da verdade, quando de fato não sabem para onde estão indo. Cada uma perdida dentro de seu próprio labirinto. Ele percebeu que era o único que poderia achar sua própria saída, e que não importava o que as pessoas lhe diziam, porque a saída de cada um é diferente.

Ele ainda não encontrou. Mas não parou de procurar.

Encontrar é o estágio final de sua aventura.

Há quem diga que ele é louco, um pobre coitado. Procurando desesperadamente por algo que nem sabe se existe. Mas não parou de procurar, e isso é só o que lhe importa. Quando se tem um objetivo, o caminho pelo qual vai chegar não é o mais importante.

Ela tenta por um, vai pelo outro, recomeça por outro.

Nem ele sabe como é essa saída.

A saída do abismo, do tédio e do vazio. Da perdição.

Poucas coisas são piores do que não saber pelo que se procura. E não tentar é uma delas.