O presépio de Albertina
Tirante o entojamento do tio Juju, era quando os olhos azuis de Albertina brilhavam para o infinito, aquele curto e curtido período natalino, e se suspendia, como por milagre, a severidade de Juju, o presépio de Albertina era a sua conexão com o mundo.
A legião de curiosos que acorriam à janela de sua sala fluía continuamente, e por vezes até se amontoava para ver aquela cena prodigiosa, o presépio, com todos seus adereços, dos antigos aos mais modernos a lhe ocupar a metade do cômodo. Eletricista, com escada às costas, caminhonete, tudo servia para enfeitar e aquele cenário armar para a chegada do que viria para nos salvar.
Uma colorida e animada graça, e era de graça, bem-aventurada, abençoada e ah, bem soada. A notícia, que saía ali da ruela Ignácio Camilo, era logo espalhada. E como encantava a meninada, que muitas vezes tinha que ser assungada para melhor mirada da bicharada juntada à coiseirada.
Presépio a parte, Albertina fazia as vontades do tio, ferroviário aposentado, solteirão empedernido, mais paternal que qualquer marido.
Tio Antônio, ao que consta, e contavam, teria saído de lá corrido, só por haver visto nos olhos apaixonados de Albertina o faiscar de Cupido.
Mas o Papai Noel, embora de saco exibido, tinha lá melhor acolhida. Desde que breve, sorrateiro e leve.