A Fuga

Após descer pela corda que tinha acabado de prender na luxuosa janela de vidro daquele importante edifício da paulista, Vladimir percebeu que tinha começado a chover.

- Como vou descer agora? – perguntou-se – não to num lugar tão alto, mas e se eu perco a mercadoria?

Tinha acabado de assaltar o cofre de um escritório, e se tudo corresse bem, seria a última vez que precisaria roubar. Nunca mais usaria aquelas roupas imundas e nem precisaria viver fugindo da polícia.

Aguardou muito tempo, e como a chuva não parava, resolveu descer, mesmo correndo riscos. As janelas tinham pequenas molduras prateadas em torno dos vidros. Vladimir se apoiava nelas para descer, mas por descuido, escorregou. A corda que o prendia soltou-se, fazendo com que seu corpo caísse, batendo violentamente com a perna no chão.

Tomado pela dor, sem saber se tinha fraturado a perna, viu próximo à calçada um táxi, estacionado. O motorista, percebendo que o homem não conseguia andar, ofereceu ajuda.

- Tudo bem moço? Eu vi você escorregando... Acho que você não está bem... Entra aí, te levo até o hospital!

Mais rápido do que o raciocínio de Vladimir, prejudicado pela dor, o motorista pôs-se a levá-lo para dentro do carro. Pouco a pouco foi recuperando a consciência. Assim que a visão voltou, seu primeiro olhar foi para o relógio de ouro do taxista, e para o cofre do táxi, que àquela hora, deveria estar cheio.

Tocando com o revólver a nuca do motorista, ele disse:

- Passa a grana agora... dá esse relógio aí!!!

- Que é isso, amigo, to te ajudando, por que isso?

- Passa a grana! Agora!

O infeliz motorista tentou abrir sua porta, que para sua desgraça estava travada. Vladimir, percebendo esse impulso, irritou-se, e atirou. Destravou e abriu a porta, empurrando o cadáver do taxista para fora, e percebendo que sua perna não estava fraturada, fugiu com o veículo.

Horas depois, a salvo da polícia, lembrou-se da quantia milionária que ele tinha na bolsa, antes de entrar no táxi. O dinheiro e o relógio do motorista eram totalmente desnecessários perto daquilo.

Porém, nem deu muita atenção ao fato, e logo esqueceu, dizendo:

- Bah! Já fiz coisa pior.

(Adaptação da fábula “O escorpião e o Sapo”)

Luiz Gustavo Silva
Enviado por Luiz Gustavo Silva em 01/07/2007
Reeditado em 02/04/2010
Código do texto: T548126
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