DEPOIMENTO DE UM ÍNDIO QUE VIVEU EM CONTATO COM OS 'BRANCOS'.
“Quando pequeno, no início da minha adolescência, meu pai me enviou com um amigo branco à cidade grande, que muitos chamam de ‘civilização’ para aprender a língua portuguesa, a ler, escrever e, quem sabe, adquirir uma profissão como os não indígenas.
Aproveitei o máximo possível daquela cultura estranha que inicialmente não pude compreender com facilidade. Com isso, tive que deixar de lado tudo aquilo que havia aprendido na aldeia com meus pais, tios e amigos. Aquilo era tido como vergonhoso. Os índios que vinham para a civilização aprendiam a ter vergonha da sua cultura.
Aprendi também a conhecer uma nova religião que me era praticamente imposta e não tinha nada a ver com os meus conhecimentos de religiosidade; e me diziam que a minha religião era bobagem, besteira. Não era especificamente uma religião.
Fui assimilando conhecimentos, crescendo na vida e me tornei um professor, um mestre. A partir daí caí na minha própria realidade. Com todos os conhecimentos adquiridos e que muitos deles me valem até hoje, percebi, com o passar do tempo, que aquilo que me foi passado pelos meus pais e meus avós, era mais que uma realidade verdadeira. Eram conhecimentos ancestrais, milenares, da minha verdadeira ancestralidade, da minha verdadeira cultura, muito mais antigos inclusive, que aqueles conceitos que me foram passados pelos brancos. Eram os verdadeiros dogmas da minha cultura.
Então, com tudo o que aprendi de profissionalismo com a dita ‘civilização’, retornei à minha cultura, minha religião e voltei a ser um verdadeiro índio”.