O VELHO JORNALISTA

O computador ligado, um cinzeiro cheio de bitucas, o óculos de grau esquecido no canto da impressora. O café já estava frio e passava das 21 horas. O velho jornalista não conseguia escrever nada. Os minutos se esvaiam e nenhuma palavra escrita. De vez em quando o seu chefe cobrava a crônica do dia seguinte. Aos poucos, os demais colegas entregavam os seus textos para a edição da manhã vindoura daquele jornal. Mas Juvêncio não tinha nenhuma idéia diante do monitor. Ele levantou-se da cadeira e foi até a janela do prédio de 20 andares. Lá embaixo algumas figuras enigmáticas se arrastavam de um lado para o outro. Talvez fossem mendigos, prostitutas ou boêmios em busca de diversão. Os poucos carros que circulavam não iluminavam as vidas daquelas pessoas. Elas eram apenas criaturas da noite que se escondiam dos raios do dia. O velho jornalista observava ao longe as luzes de prédios mais altos e imponentes. Eles pareciam enormes espigas de milho. Logo veio à sua mente as festas juninas na casa da avó durante a sua infância. Entre devaneios e lembranças, Juvêncio buscava uma inspiração para o seu trabalho. Ele pegou o décimo cigarro daquela noite, e observou a fumaça se dissipando lentamente. Aquilo parecia uma vida indo embora para sempre. O cigarro já estava pela metade quando finalmente o seu chefe adentrou à sala. Juvêncio estudou as feições do seu superior. A face dele estava tensa e nervosa. Os dois ficaram frente a frente sem dizer nenhuma palavra. Eles pareciam dois opositores em trincheiras distintas prontos para o ataque. O velho jornalista mordeu o lábio inferior, e passou a língua no canto da boca. O gosto do café ainda estava evidente. O seu chefe então balbuciou algumas palavras. Ele perguntou: - E então Juvêncio, a crônica de amanhã já está pronta?. Estamos esperando somente a sua para fechar a edição do jornal. O velho jornalista pediu cinco minutos ao chefe. Então sentou-se na cadeira, pôs os óculos e rapidamente escreveu uma crônica intitulada "Um chefe muito chato". Juvêncio descreveu todas as características negativas de ter um superior tão ranzinza e despreparado. No dia seguinte a edição do jornal esgotou-se em poucas horas. Quando o velho jornalista voltou ao trabalho foi surpreendido com uma notícia bombástica. Ele acabara de ser promovido a editor chefe da redação no lugar de seu superior. Juvêncio realizou um desejo de todos na redação. Ninguém gostava de ter uma pessoa tão chata e nervosa, mas não tinham coragem de falar abertamente. Todos o saudaram e o aplaudiram em sua chegada. Agora o velho jornalista é quem manda e comanda tudo e a todos.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 12/12/2015
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