O CRISTO ENTALHADO - PARTE l

Josué morava na região do Cariri desde que nascera, nas terras que herdara dos pais; criava algumas dezenas de vacas, cabras e galinhas. Tinha um roçado onde plantava mandioca e feijão.

A seca dos últimos 3 anos que castigava a região estava acabando com tudo, quase todos vizinhos já tinham abandonado a região. Ele, a mulher e os dois filhos pequenos, ficavam porque tinham melhores condições financeiras. Estava resistindo por amor naquelas terras. Foi vendendo as vacas conforme o pasto foi acabando, para comprar rações para as outras e para as cabras e galinhas.

Como ficava muito tempo sem poder trabalhar, não podia cultivar a terra pela falta de chuva, gostava de esculpir raízes e galhos secos de madeira que achava pelas andanças pelo campo. Fazia animais, imagens de santo, conforme era o jeito da raiz, no quarto do casal de filhos estavam muitos trabalhos, tatus, cobras, pássaros.

Na sala estava um crucifixo com o Cristo, feito com raiz de pau d’arco que era uma perfeição.

Certo dia fez uma cavalinho para o Genival , era perfeito, bem acabado e polido. Na hora para fazer almoço, Rosinha pegou um pequeno toco para acender o fogo, Josué gritou,

- Tu vai queimar Nossa Senhora! Assustada recuou

- Deus me livre, isso aqui é um toco, Josué!

- Ele pegou o toco dizendo, é Nossa Senhora, Tu vai ver! Saiu para a varanda; no dia seguinte lhe mostrou a imagem que fez com o toco.

- Não lhe falei que era a Santa, veja que beleza! Quando vejo um toco, uma raiz, já vejo o que vai ser!

Alguns dias depois, Rosinha cabisbaixa, chegou e lhe falou,

- Josué, esta é a ultima caneca de feijão, acabou-se.

Virou-se indo para a cozinha para esconder as lágrimas que saia dos olhos.

Josué foi atrás dela e abraçando-a lhe disse

- Calma meu bem, vamos por um fim nesta agonia, vou aceitar a proposta de compadre Serafim, vamos mudar para Juazeiro do Norte, vou trabalhar com ele na firma de construção, já falou com seu patrão e tem uma vaga para mim. Vou vender a criações que ainda restam e vamos embora, quando voltar a chover, voltamos.

Na manhã seguinte cedinho foi na pequena cidade ali perto contratou um caminhão para a mudança, vendeu o restante do gado, cabras e galinhas, até os dois jumentos! Só iam deixar para traz os rastros!.

No outro dia chegaram dois caminhões, um para levar as criações, o outro para a mudança.

Rapidamente embarcaram os animais, que já eram poucos, e começaram a por os móveis e utensílios domésticos, também pouca coisa. Quando chegou na sala, viu Rosinha embrulhando o Cristo numa toalha branca, disse olhando para ela

- Este meu pai esqueceu de mim!

- Nem diga uma blasfêmia desta, bata na boca três vezes, Jesus jamais abandona alguém! Falou Rosinha, brava!!

- Foi só um desabafo, me perdoa meu pai, disse saindo em direção aos túmulos dos pais; ia se despedir deles jurando que voltaria!

Mauri Candido
Enviado por Mauri Candido em 30/11/2015
Reeditado em 30/11/2015
Código do texto: T5465499
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