O ÚLTIMO EXPEDICIONÁRIO
Faleceu hoje, dia 27 de novembro, o meu amigo Victor Pinto Fonseca, um dos últimos expedicionários que Mogi das Cruzes mandou á Europa para lutar na Segunda Guerra Mundial. Ele fez cem anos de idade em abril deste ano e estava bastante lúcido na festa do seu centésimo aniversário. A segunda guerra mundial terminou há setenta anos e nós já estamos prestes a iniciar uma terceira. Como é difícil, para a espécie humana, encontrar um meio de viver em paz. Eu gostava muito de conversar com o Victor e ouvir dele as histórias da guerra. E ver como podem ser diferentes as visões de uma realidade quando a ela não somamos as nossas próprias ilusões. Victor me mostrou que não há nada de heroico em uma guerra. Que não há nenhuma honra nem qualquer valor humano em se matar uma pessoa que não se conhece e que nenhum mal nos fez, a não ser morar em outro país, falar uma língua diversa da nossa e talvez acreditar em uma ideologia diferente.
A segunda guerra mundial talvez tenha sido o último conflito onde um soldado podia mostrar o seu valor pessoal. Em uma terceira morreremos todos sem ver o rosto do nosso inimigo ou pelo menos tentar descobrir de onde veio o tiro. No nosso esforço para emanciparmos tudo, emancipamos também os nossos conflitos. Hoje a guerra nem depende mais de nós para ser travada. Pode ser detonada pelo vírus de um computador, e será travada por máquinas. Nós entraremos apenas como vítimas. Talvez nem tenhamos tempo de sentir medo, como Victor dizia que sentia em sua barraca de campanha, ao ouvir, ao longe, o ribombar dos canhões e o matraquear insistente das metralhas, as terríveis “lurdinhas”, como os soldados brasileiros as chamavam. Por sorte, disse-me ele, não precisou matar ninguém naquela cruenta e terrível guerra. Deus, por certo, há de dar o devido valor a isso. Afinal, não é qualquer um que atravessa o inferno sem sair, pelo menos, chamuscado de lá. Vá em paz amigo Vitor. Ninguém mais do que você fez por merecê-la.
Faleceu hoje, dia 27 de novembro, o meu amigo Victor Pinto Fonseca, um dos últimos expedicionários que Mogi das Cruzes mandou á Europa para lutar na Segunda Guerra Mundial. Ele fez cem anos de idade em abril deste ano e estava bastante lúcido na festa do seu centésimo aniversário. A segunda guerra mundial terminou há setenta anos e nós já estamos prestes a iniciar uma terceira. Como é difícil, para a espécie humana, encontrar um meio de viver em paz. Eu gostava muito de conversar com o Victor e ouvir dele as histórias da guerra. E ver como podem ser diferentes as visões de uma realidade quando a ela não somamos as nossas próprias ilusões. Victor me mostrou que não há nada de heroico em uma guerra. Que não há nenhuma honra nem qualquer valor humano em se matar uma pessoa que não se conhece e que nenhum mal nos fez, a não ser morar em outro país, falar uma língua diversa da nossa e talvez acreditar em uma ideologia diferente.
A segunda guerra mundial talvez tenha sido o último conflito onde um soldado podia mostrar o seu valor pessoal. Em uma terceira morreremos todos sem ver o rosto do nosso inimigo ou pelo menos tentar descobrir de onde veio o tiro. No nosso esforço para emanciparmos tudo, emancipamos também os nossos conflitos. Hoje a guerra nem depende mais de nós para ser travada. Pode ser detonada pelo vírus de um computador, e será travada por máquinas. Nós entraremos apenas como vítimas. Talvez nem tenhamos tempo de sentir medo, como Victor dizia que sentia em sua barraca de campanha, ao ouvir, ao longe, o ribombar dos canhões e o matraquear insistente das metralhas, as terríveis “lurdinhas”, como os soldados brasileiros as chamavam. Por sorte, disse-me ele, não precisou matar ninguém naquela cruenta e terrível guerra. Deus, por certo, há de dar o devido valor a isso. Afinal, não é qualquer um que atravessa o inferno sem sair, pelo menos, chamuscado de lá. Vá em paz amigo Vitor. Ninguém mais do que você fez por merecê-la.