A Manhã

Ele chegou em casa naquela manhã, ligou o radio e assistiu um púrpura incandescente se formar no horizonte. Escolheu um dos seus 20 melhores amigos e dividiu com ele um café. Cada acorde que saía das caixas de som bombeava suas veias lentamente. Ele acreditava que não sentiria aquilo tão cedo novamente. Lembrou das promessas que havia feito a si mesmo até pouco tempo e sorriu, tarefa árdua naquela manhã cinzenta. Lembrou também de cada gota de suor que havia jorrado do seu corpo enquanto buscava redenção. Muito inútil procurar por tal artifício. Pensou no caminho que teria de trilhar na sua cabeça a partir de agora, e ele sabia que iria fracassar. Embora tudo que havia ocorrido, cada palavra naquela conversa sincera, cada gesto indicando o oposto do que estava por vir, sentiu uma certa paz. Sentiu que era difícil segurar aquela vela acesa naquela chuva fria, é duro lidar com a própria vontade, mais ainda lidar contra a vontade de terceiros. Engoliu aquele soco no estômago que desceu seco na garganta. Chamou mais dois amigos pra conversa enquanto o café esfriava e se perguntou o quanto pior aquilo poderia ser. Banhou-se do sol enquanto as nuvens se abriam e recolocou seu escudo no lugar. "Amanhã é um novo dia", refletiu, "mas primeiro teria de que sobreviver ao hoje". Baixou a espada e fitou seu olhar rumo ao leste, algo a mais à perder nesta cidade? só mais 15 minutos para descansar em paz. A tempestade estava por vir.

Siid
Enviado por Siid em 25/11/2015
Reeditado em 30/06/2016
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