O bombom
Não vou dizer que eu seja uma pessoa que se deixa comover muito facilmente. Mas tem coisa que me comove profundamente, como é o caso de ver uma criança de família menos favorecida financeiramente, querer muito uma coisa e não ter dinheiro para comprar, principalmente se for coisa de comer.
Talvez seja por eu ter passado muita vontade quando criança e não ter meu pai e minha mãe por perto para me dar.
Não sei explicar direito, fato é que isso me comove muito. Se vejo uma cena dessas e se posso, procuro ajudar.
Certo dia estava eu na estação rodoviária, de manhã, aguardando um parente que iria chegar. Por alí também estava um senhor, aparentando uma idade que não havia chegado aos 40.
Fiquei a observar seu comportamento, toda hora olhava no relógio, parecia ansioso. Era notório que havia ingerido bebida alcólica um pouco além da conta.
Aproximei e perguntei se estava a esperar por alguém.
Estou esperando minha mulher e minha filhinha – Respondeu ele.
Estão vindo do interior do Pernambuco – continuou.
E como é peculiar no nordestino, eles referenciam sempre às suas raízes com muito orgulho e assim o fez com a boca “cheia”.
O Senhor trabalha por aqui? – Perguntei.
- Sim. Trabalho numa fazenda. O meu patrão me deixou aqui e pediu para eu ligar quando elas chegassem.
Elas faziam a viagem naqueles ônibus que cruzam o Brasil ou seja, o ônibus que fazia a linha de Natal - RN para São Paulo. E como é comum, não tem hora certa pra chegar, sempre com um pouco de atraso e ele estava ali desde a madrugada.
Agora dava para compreender porque havia bebido um pouco além da conta, estava emocionado.
Logo o ônibus trazendo sua família chegou. Foi um abraço emocionado e meio sem jeito que ele deu na sua esposa, juntamente com um beijo tímido e logo sua filhinha se aninhou no seu abraço, demonstrando que estava com saudade do pai. Uma cena bonita de si vê.
Sua filhinha regulava ter 4 anos de idade, foi em direção a vitrine do balcão da lanchonete e de maneira tímida, indicou com o dedinho da mão direita um bombom que ali era exposto.
E assim, de maneira sem jeito e carinhosa, ficou olhando para o pai e mostrando com o dedinho o bombom, num gesto puro, pedindo para o pai.
O pai meio desconcertado, foi até ela e disse:
Seu pai não tem dinheiro filha.
Pude ver em seu rostinho o tamanho da sua decepção. Meu coração ficou em pedaços.Tanto por ela, quanto pelo pai - pois é tão duro para um pai que é pai de verdade, não poder atender a um pedido de um filho ou filha, porque a situação financeira não lhe permite.
Peguei cinco reais e fui até ela e falei ao seu ouvido:
- Toma, compra o bombom.
Ela não recebeu e saiu envergonhada para junto da mãe. Notava-se, que era uma menina bem criada, orientada para não aceitar nada de estranhos.
Só depois que a mãe autorizou foi que ela recebeu o dinheiro.
Ela então pediu o vendedor um bombom e eu disse, compra dois. Assim ela o fez e com o sorriso mais lindo e feliz, veio me entregar o troco. Não o recebi.
- Guarda para você comprar mais depois – Lhe disse.
Ela ficou na dúvida se recebia, só depois de olhar para a mãe e receber o consentimento é que o fez. E me disse: obrigado.
Penso que uma das coisas mais gratificante é poder contribuir para ver o semblante de felicidade de uma criança, ao realizar um desejo tão importante pra si. Isso não tem preço.