RUA MAGICA
Ele olhou para o enorme edifício com grandes janelas de vidros espelhados. Aquela construção denotava um ar de modernidade ao bairro onde outrora foi habitado por casinhas coloridas.
Feliciano sentiu saudades do tempo em que o movimento da rua era pacato. O único barulho que escutara naqueles anos era o grito do leiteiro que divulgava o seu produto em plena madrugada. O idoso tinha um grande apreço por ambulantes que passavam defronte a sua casinha de tijolos coloridos. Ele admirava a persistência destes comerciantes. Tinha um deles chamado Móca que vendia perfumes com essências falsas de lavanda. Os vidros destas fragrâncias não possuíam rótulos. Mas o preço induzia as pessoas a esgotarem o estoque. Outro ambulante constante nesta rua chamava-se senhor Tom. ele foi um animado velhinho bigodudo que vendia as suas apetitosas tapiocas. Os moradores gostavam muito dele, e aguardavam com muita expectativa a "visita" e com as suas iguarias.Os jovens estudantes não saiam para a escola antes de degustar as deliciosas tapiocas. No decorrer do dia outros pequenos comerciantes percorriam esta rua vendendo colchas de retalho, cadeiras de balanço, espelhos e colchões de molas. Aquela rua era mágica.
Mas todos aqueles ambulantes que comercializaram os seus produtos naquela rua enriqueceram e hoje são grandes empresários. Há o empresário da moda, o dono de uma fábrica de perfumes, o proprietário de um restaurante especializado em comida regional. Tem também o lojista que produz móveis projetados.
A clientela daquela rua não existe mais também. os proprietários daquelas casas morreram e os herdeiros daquelas famílias venderam-nas para os especuladores imobiliários e foram embora do lugar. Mas o nosso solitário Feliciano ainda continua lá nesta rua. Agora o barulho que ele escuta é insurdecedor. Os carros luxuosos que sempre desembarcam loiras estonteantes e homens de ternos elegantes dão o tom de uma música ruim aos seus ouvidos.
Feliciano preferia o tempo em que as casinhas tinham muros baixos, grandes jardins, e vizinhos para dividir os seus problemas. Quantas saudades de outros tempos. "Assim caminha a humanidade", ou será a modernidade?