Um Garoto das Arábias

Um Garoto das Aràbias.

Gama Gantois.

Leonardo ou Leozinho, como era conhecido, era um bom garoto. Deveria ter uns oito anos de idade. Era sensível, inteligente e muito educado. Pertencia a uma família bastante tradicional do Rio de Janeiro, daquelas com presença sempre constante nas colunas sociais.

Ultimamente, o nosso Leozinho vinha se constituindo num grande problema para os seus familiares. Não é que o endiabrado guri pegou a mania de dizer palavrão a torto e a direito? Bastava abrir a boca para despejar uma dúzia de obscenidades. Não se sabe como, nem por que adquiriu esse terrível vício de linguagem.

Preocupado com o comportamento do filho, seus pais buscaram auxílio na medicina. Começa aí uma peregrinação pelos consultórios dos médicos mais famosos do Rio de Janeiro. Foram consultados psicólogos, psiquiatras e outros profissionais, sem, contudo, lograrem algum êxito. Surgiu à hipótese de ser carga genética, mas, tanto seu pai, quanto sua mãe era incapaz de tais atitudes. Nunca, em momento algum seus pais deixaram escapar um mínimo palavrão. Eram polidos, finos. Por isso, essa hipótese fora abandonada.

A verdade era que Leonardo não guardava local ou hora. Era só abrir aboca para disparar uma série de imoralidades. Segundo Leozinho era um impulso irresistível. Ele bem que tentava evitar, mas quando se dava conta, lá estava à indecência. Ninguém conseguia entender nada já que estudava num dos mais tradicionais colégios católico do Rio de Janeiro. Seus amigos eram todos do mesmo nível e ao que se sabe, nenhum deles tinham adquirido tal hábito. Era inexplicável

Um belo dia, a professora explicando o significado da palavra canibalismo e para melhor ilustrar a aula, deu como exemplo, a morte do Bispo Dom. Pero Fernandes, na costa das Alagoas, que teria sido devorado pelos índios caetés. Percebendo que Leozinho não estava ligado na aula indagou:

- Sr. Leonardo, o Senhor não está prestando atenção as minhas explicações.

- To, sim Tia.

- Então, responda: Por que os índios Caetés comeram o bispo Dom. Pero Fernandes?.

E o garoto na bucha.

-Pô tia, eu nem sabia que esse cara era viado.

Foi um escândalo. Metade da classe ria. A outra aplaudia.

Outro episódio constrangedor do nosso Leozinho foi quando dona Albertina, uma senhora de 84 anos, passou mal e caiu na rua. Foi um corre-corre geral. Cada um dava uma opinião. Faz isso, faz aquilo e a pobre senhora nada de voltar a si. Foi aí que Leozinho a pleno pulmões deu a receita:

- Joga um pouco de água gelada no rosto dessa puta-velha que ela logo melhora.

Foi obrigado a sair o dali correndo. Era assim, o nosso Leonardo. Doce, suave, gentil e tremendamente desbocado.

Mas, a grande façanha do nosso herói ocorreu durante uma recepção oferecida pela família a um casal de amigos que retornava ao Brasil depois de longa ausência.

O pai de Leozinho preocupado com o comportamento do filho resolveu ter com ele uma conversa franca, aberta. Combinou com o guri que todas as vezes que a vontade de dizer um palavrão aflorasse aos seus lábios, deveria substituí-lo pela frase: “ Oh!Jesus”. Se o filho passasse pela festa sem soltar um único palavrão, ganharia uma viagem a Disneyworld, além de vários prêmios. Leozinho prometeu fazer uma forcinha.

No dia da recepção, todas as atenções estavam voltadas para o “guri”. Durante as apresentações, o menino percebeu o decote bastante ousado, ostentado pela mulher. Não conseguindo se conter diante da quase nudez dos seios da senhora e da beleza que eles representavam, exclamou:

-Vai ser bonito assim lá na casa do meu Jesus, Maria José.

-O que é bonito, meu filho, indagou Dona Mercedes?

-O seu vestido. Maravilhoso

A boa senhora ficou encantada com galanteio do garoto. Em contra - partida, Leonardo não conseguia desviar os olhos daquele belo par de seios. Como são lindos, pensava. Vão ser lindos assim na casa do Jesus, Maria e José.

A cada evocação do nome de Jesus, Maria e José, nosso Leonardo ia conquistando os corações dos visitantes. Todos teciam elogios a sua esmerada educação. Seus pais estavam orgulhosos do comportamento do filho.

Tudo estava correndo conforme o combinado. A recepção chegara finalmente ao fim. Na hora da despedida, Dona Mercedes, beijando o rosto de Leonardo, abaixou-se demasiadamente deixando à mostra seus volumosos e belíssimos seios. Foi então, que o menino exclamou:

- Olha, pai, eu vou perder todos os prêmios prometidos, mas, não posso deixar de dizer que os peitos e a bunda de Dona Mercedes são bonitos pra cacete.

Foi um horror. O céu desabou sobre as cabeças dos presentes. O chão se abriu e por alguns minutos. A família de Leozinho foi ao inferno. Os amigos saíram dali revoltados com a falta de postura daquela criança.

Foi então que o pai do nosso paladino pensou em voz alta:

-Tem razão esse meu filho. Não é que os seios e a bunda da Mercedes são bonitos pra cacete. Vão ser bonitos assim, na puta que pariu.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 06/11/2015
Reeditado em 09/02/2016
Código do texto: T5440276
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