A LOJA


Quando a jovem chegou perto da loja para comprar alguns 'pen drives', aquela senhora vinha tão apressada que lhe deu um esbarrão. Sem jeito, a mulher desculpou-se e seguiu em frente, com passadas rápidas. A moça ficou conjeturando o que levaria uma pessoa a caminhar assim, tão açodada, como se cada minuto gasto fosse o último.

Nunca conseguira andar assim. Mesmo vivendo há mais de vinte anos na cidade de São Paulo, sempre andara calmamente, até destoando daquele burburinho que a encantava.

Mergulhada em seus pensamentos, passou diante da loja sem perceber. Quando notou, já estava a uns cem metros de distância. Soltando um suspiro de autocensura, começou a fazer o trajeto de volta. 

Mal havia dado alguns passos e percebeu uma aglomeração em frente à  loja. Um curioso a informou que o local acabara de ser assaltado. Como resultado, um funcionário em estado grave e uma cliente morta a tiros. O assaltante fugira.

Saiu dali chocada com tanta violência. Refletia se as coisas acontecem por acaso ou se tudo está predestinado. Não fosse aquela senhora apressada que lhe desviara os pensamentos e a fizera não entrar na loja naquele instante, poderia ter sido ela a cliente atingida.

Não pôde deixar de pensar se havia sido o acaso que a fizera driblar a morte, como naquele filme, ou se a sua hora ainda não havia chegado. Sentindo um frio inesperado, encolheu-se, e os poros se arrepiaram. Nem percebeu que o termômetro da praça marcava trinta e cinco graus à sombra...