O FIM DE UM SONHO
O Fim de um Sonho
Gama Gantois
Madalena era uma mulata, tipo exportação, digna representante da raça brasileira. Mulher sem defeitos. Quando ela passava não havia homem que não a olhasse.
Morava na periferia de uma comunidade carente, numa casa bem modesta em companhia da mãe. O que tinha de bonita tinha de ambiciosa. Volta e meia ficava revoltada com a sua situação financeira e jurava por tudo que é santo que haveria de se casar com um homem rico que a tirasse daquela vida miserável. Sonhava com vestidos caros, perfumes importados, viagens ao exterior, jóias, muitas jóias, casa luxuosa, carrões com motorista à disposição vinte e quatro horas por dia, várias empregadas para servi-la e tinha um sonho maior. Sonhava em freqüêntar a alta sociedade carioca.
Mantinha um romance sem muito compromisso com Robertinho, homem muito querido na comunidade, mas, segundo Madalena portador de dois grandes defeitos: O primeiro era ser pobre. O segundo não ter nenhum futuro na vida. Madalena não perdoava.
Vivia num mundo à parte. Madalena não gostava de se misturar com as pessoas da sua comunidade. Dizia sempre. “Quem se mistura com porcos, farelos come” Assim, nunca aceitou o convite para assistir aos ensaios da Escola de Samba, do qual Robertinho era mestre-sala. De tanto insistir, um dia Madalena fez o favor de comparecer à quadra. Foi um reboliço. Logo, logo estava cercada de mordomias e atenções. Foi tanto o rapapé por aquela mulher que o patrono da escola, notório banqueiro do jogo de bicho, Maurição, um dos homens mais influentes na cúpula de contravenção, chamou-a para sua mesa.
Impressionado com a beleza da mulata, começou de modo discreto, já que era casado, pai de filhos, a paquerar aquela beldade. Conversaram horas a fio. Madalena já estava se sentindo a primeira dama do morro. Não foi difícil ao velho banqueiro, homem muito rico, conquistar Madalena, pois, ele possuía todas as virtudes que ela adorava num homem: Dinheiro e poder.
Enfeitiçado pelos encantos da mulata, o velho banqueiro foi cedendo aos seus caprichos. A primeira providência foi comprar um grandioso e luxuoso apartamento na Barra da Tijuca, exigência da bela que não aceitava morar em outro lugar. Madalena passou a se julgar uma nova emergente da sociedade carioca. Depois ganhou muitas jóias, perfumes franceses, carro com motorista, talão de cheque, cartões de crédito sem limite. A ex-moradora da periferia estava no topo da pirâmide social. Da sua vida anterior nem gostava de lembrar. Agora era rica e poderosa.
Tinha seu Banco do Brasil, particular conforme gostava de dizer. Quando precisava de alguma coisa, como um dinheirinho extra, chamava o velho e bom Maurição e problema estava resolvido. Maurição fazia todas as suas vontades.
O tempo foi passando e Madalena foi rapidamente se adaptando nova realidade. O dinheiro é fantástico, dizia a todos que a procurava. Compra até consciências.
Uma manhã o banqueiro do jogo de bicho, Maurição, estava inserido nas páginas policiais como vítima de uma emboscada. Dizia a manchete: “Mataram o banqueiro do jogo de bicho Maurício Drumonnd, conhecido como Maurição” etc...
Ao ler a notícia, Madalena entrou em crise nervosa e só conseguia dizer:
“Mataram o meu Banco do Brasil”.
No dia seguinte, a viúva do banqueiro a expulsou do apartamento, tomou-lhe todas as jóias cancelou os cartões de crédito e a colocou para fora de casa só com a roupa do corpo.
Madalena meio enfurecida voltou para comunidade e para sua vidinha miserável. Às vezes quando a noite ia alta, ouviam-se seus gritos desesperados:
“Quero de volta o meu Banco do Brasil”.
A coitada enlouqueceu.