A AMIGA DA JANELA
Estranhei a janela fechada.
Todos os dias ao passar, olhava para cima e via a janela entreaberta, a fina cortina balançando ao vento e, justo quando eu estava em frente à casa, ela chegava e se debruçava no parapeito dizendo: "Bom dia! Já indo para o trabalho?" - Sim, Senhora Jovita, estou indo. Tudo bem? "Na paz de Deus, dizia", e eu seguia o caminho...
Todos os dias, sempre assim. Ás vezes ela chegava até o portão da casa, com uma sacola de frutas e me oferecia... geralmente bananas, mangas ou mamão. E dizia: "Pra alegrar seu dia!"
Como eu gostava dela! Era uma amizade mais de meiguice que de intercâmbio. Mas eu sabia que ela também gostava de mim. Lembro-me do dia que chegou com um grande pedaço de bolo e disse, "Aniversário do meu neto, guardei pra ti!" Ou então, às vésperas do Natal quando veio com uma linda toalhinha de prato e disse: "Bordei com todo carinho pra te dar!"
E agora a janela fechada... que teria acontecido? Não me aguentei e toquei a campaínha da casa.
Um caseiro veio abrir, expressão muito séria. - Que aconteceu, perguntei-lhe eu? "Ah, nem lhe conto! Ontem, o filho dela veio, e a levou para a Capital. Disse que ela não voltará, pois já não poderá mais morar sozinha. Irão interná-la num asilo..." - Mas como, disse eu, ela não estava tão bem? "Nem sei, disse ele. Coisas de gente rica muito ocupada."
Fui-me embora, triste, agoniada, com o que soubera.
E o tempo foi passando, dias, talvez meses, a janela sempre fechada.
Eis que hoje passo e a janela está aberta... toco a campaínha e o mesmo caseiro me atende. - Notícias ?, digo-lhe, e ele: "Sim. Tenho uma encomenda dela para a senhora. Vou buscar."
E volta minutos depois com um pequeno embrulho nas mãos. "Toma, é seu."
Eu, mãos apressadas, abro o embrulho e junto a um bilhete, um cordão com uma linda medalhinha. O bilhete, escrito em fina caligrafia, trêmula, pela dificuldade de coordenação assim dizia: " Já estou em outra janela que não se fechará jamais para ti, pois será minha lápide eterna. Um grande abraço da tua amiga da janela!"
Apertei contra o peito a correntinha, dobrei o bilhete, me despedi do caseiro, e continuei meu caminho.
Ninguém viu a lágrima que rolou em minha face...