897-NOMES E APELIDOS - Auto-biográfico

Apelido, quem não tem? Ou não teve, quando criança, adolescente? Ou talvez tenha na idade avançada, quando se torna avô?

Nunca me aborreci com apelidos. Talvez por isso tenha sido, ao longo da vida, vítima fácil de apelidos.

Quando criança, na família, era o Tuniquinho da Mariínha (que me individualizava ao mesmo tempo em que me indicava como filho de dona Maria), mas os primos mais maldosos me judiavam me chamando de Tunico Pinico. No curso primário, devido ao rosto coberto de sardas, fui Ovinho de Tico-Tico. Um colega me chamou de Pirú, devido ao enrubescimento estremo que sofria quando ficava envergonhado. Pra me achacar, gritava: “Pirú, glu-glu-glu”. No ginásio, por ser loiríssimo, tal qual o Irmão Germano, reitor da 1ª. Série fui apelidado de Filhote do Germano (ai! esse era duro de agüentar).

Gostei muito de ganhar o apelido de Gobbinho, que me tem acompanhado vida afora. Foi-me dado pelo animador do programa de rádio “Caixa de Maravilhas” da emissora de minha cidade. Um programa de perguntas e respostas, no qual eu me destacava, pois acertava muitas respostas e ganhava prêmios. Meu pai, marceneiro, trabalhava para a emissora, era conhecido como “seu” Gobbo, e então o animador José Hilton Alcântara me lascou mais um apelido:

— Para não confundir você com seu pai, vamos chamá-lo de Gobbinho.

Pegou. Gostei. E passei me apresentar com o novo apelido. Isto foi aos 14 ou 15 anos e até hoje, aos 80, amigos contemporâneos e primos me chamam de Gobbinho.

Em um curso no Rio de Janeiro, fui apelidado de Tocha Humana, devido aos meus cabelos ruivos. Rendeu-me uma situação um pouco constrangedora com minha namorada Enny com final cômico (1).

Um colega brincalhão ao me conhecer exclamou:

— Nossa! Como você se parece com o reverendo García, lá da minha terra!

Reverendo foi um apelido que me pegou por alguns anos e me deu algum trabalho para explicar à minha esposa, quando ela soube (2).

E ultimamente tenho comparecido como voluntário para contar histórias nas escolas de Belo Horizonte, e me caracterizo como Vovô Tunico.

Bem, o que queria mesmo é comentar alguns apelidos e combinações de nomes e sobrenomes que são por vezes alvo de gozações e de piadas.

O velho Salvatore, italiano bem sucedido no comércio de minha terra, batizou o filho de Giuseppe, e logo ele mesmo apelidou o garoto de Pepe e que resultou em Pepino. Era a gozação na escola primária. Giuseppe foi estudar na faculdade de medicina (“anda a sere dotore, sa lui comé” dizia o pai, já orgulhoso do filho. E quando Giuseppe, Pepe ou Pepino voltou formado, o pai proibiu a família e os amigos de chamar o filho pelos apelidos, e até mesmo pelo nome de batismo.

—Adesso, cé JOSÉ! Il dotore José, sai? Ecco! Vabenne!

E pelo prestigio do pai, todo mundo na cidade chamava o medico filho de Salvatore de DOUTOR JOSÉ.

A família Pinto existe sim, em minha terra. Aliás, éramos vizinhos de quarteirão. A gozação era geral. Diziam que as mulheres quando se casassem, teriam de usar o Pinto no meio¸ isto é, entre o próprio nome e o sobrenome do marido.

Gracinha Pinto (irmã de Amadeu) namorou Mario Moreno as não chegaram a se casar. Já imaginaram como ela passaria a ser chamada após o casamento: Gracinha Pinto Moreno... Não dava!

Havia um bar chamado “A Toca do Janjão” e quando Amadeu Pinto entrava na “Toca” era uma gozação geral. Por isso, de comum acordo entre Janjão e Amadeu, Este deixou de freqüentar aquele bar. Agora, Amadeu Pinto não entra mais na “Toca do Janjão”.

A irmã de Gracinha, Belinda, casou-se com José Rocha e passou a assinar Belinda Pinto Rocha. E ninguém ousava falar por extenso o nome do primo Jacinto, que o pai batizara de Jacinto Pinto Aquino Rego !!!

Cruz Credo!

(1) Ver Conto # 110 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

(2) Ver Conto # 408 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 29 de Maio de 2015

Conto # 897 da Série 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 29/10/2015
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