É Bonita, é bonita e é bonita - Parte III
Após o papo de sempre com o amigo jornaleiro, Arthur começou a aumentar o ritmo de suas passadas, entrando em uma espécie de trote, para ele isso já era automático, pois a realização dos exercícios possuía uma liturgia definida, uma rotina fixa que ele não gostava de fugir, primeiro era a concentração e relaxamento na Banca de Seu Carlos, após dava-se início a um trote bem lento que aumentava até terminar em uma corrida não muito rápida, é evidente que entre um passo e outro muita coisas aconteciam, pensamentos iam e vinham, pessoas passavam, buracos para desviar, o trânsito, diante disso tudo ouvir música tornava-se fundamental para ajudá-lo a focar apenas na atividade.
Os passos eram ritmados, já fazia algum tempo que se exercitava e este treino já o deixará com um ritmo razoável, seus passos eram suaves, a música tocava e não percebeu quando duas vítimas da sociedade o acompanharam em sua corrida, continuou correndo, as pobres crianças armadas com uma revólver bem potente gritavam: - “É um assalto tio, passa o barato para cá”, o homem sem ouvir devido a altura da música continuou correndo, só parou quando o estrondo do tiro conseguiu vencer a altura do som e tocar seus tímpanos, logo percebeu o sangue manchando sua camisa, o tiro foi dado na lateral da barriga, pouco importava o local, um tiro é um tiro, conseguiu caminhar até a próxima esquina e desabou no chão, permaneceu um tempo acordado até o último suspiro, um tempo que usou para suas últimas reflexões.
As pessoas tentaram ajudá-lo, mas o estrago foi irremediável, a bala perfurara algum órgão vital, provavelmente o fígado ou o rim, quem sabe o estômago, mas tudo isso são apenas detalhes, pois a morte não liga para anatomia, vem apenas confiscar o que é seu, tomar posse de sua nova aquisição, para ela tanto faz um corte, um tiro, uma doença, sua missão é apenas levar consigo o agonizado, guiá-lo em uma jornada ao desconhecido, certificar que deixará um cadáver, um pobre moribundo que jamais verá novamente a luz do luar, não mais abraçará entes queridos, nunca mais sorrirá, dormirá, comerá,
Arthur morreu, um homem com um grande futuro pela frente e bocas para alimentar, foi condenado a pena de morte sem ser julgado, executado sem nenhum crime cometido, dois assaltantes, um tiro certeiro, não houve compaixão, ficou ali estendido no chão, não atrapalhou o trânsito, não atrapalhou o tráfego, seu corpo duro e imóvel, no ouvido o MP3 que tocava: - “E eu fico com a pureza das respostas das crianças...que a vida deveria ser bem melhor....Mas isso não impede que eu repita, que a vida é bonita e é bonita.!!!