A fragilidade de nossas amizades

Nos últimos tempos reparei que estamos muito mais frágeis às decepções que nos são impostas. Não sei se isso acontece porque, infelizmente, nos dias atuais é muito mais simples e fácil descartar relações - sejam elas amorosas, familiares ou de amizade -, do que simplesmente lutar contra o próprio orgulho e tentar seguir em frente.

Veja bem, não estou falando que devíamos aceitar tudo e virar um saco de pancada, alvo de patada, ou qualquer coisa do gênero.

A grande questão é que enquanto não aceitarmos que não somos os únicos humanos, que não somos as únicas pessoas que falham e, principalmente, que assim como somos desculpados tantas vezes, nós precisamos saber desculpar também, nós nunca seremos capazes de compreender, de fato, como é ter uma amizade duradoura ou sincera.

Temos o hábito de acreditar que verdadeiros são aqueles amigos que fazem o impossível para nos ajudar. Que eternos são aqueles que nunca falharão conosco. Que bons são aqueles que sempre dirão o que gostaríamos de ouvir. Pois, sinto lhe informar que isso não condiz com a realidade.

Se queremos algo e precisamos de ajuda, primeiramente precisamos tentar fazer o impossível por nós mesmos e, só depois, pedir tal ajuda sem esperar que o milagre caia dos céus. Os nossos amigos vão nos ajudar na medida do possível. Eles farão tudo o que estiverem ao alcance deles, mas não mais que isso.

Se desejamos companhias perfeitas – sem más escolhas, sem más vontades, sem que cometam erros -, precisamos entender que jamais encontraremos isso.

Uma vez escrevi no blog um texto sobre decepções, mais focado no campo amoroso da questão, e lembro de ter dito algo como “só existe um tipo de pessoa capaz de nos magoar: quem amamos”. No campo de amizade, isso não é diferente. Haverá discussão, haverá conflito, haverá decepção, haverá tudo de ruim que pode acontecer. E a causa não é necessariamente o outro, pode ser nós mesmos.

Muitas vezes, nós contamos uma experiência aos nossos amigos mais próximos e recebemos de volta uma repreensão, uma bronca, um puxão de orelha. Às vezes, falamos de nossos relacionamentos como se estivéssemos sempre certos, e ouvimos um: larga a mão de paranoia. Você está errada dessa vez. Não vacila.

Então paramos, olhamos para a pessoa e pensamos: mas que diabos ele está dizendo? E simplesmente respondemos: você não entende...

São questões tão bobas, tão pequenas, tão aparentemente óbvias, que nós não nos atentamos ao porquê de estarmos tão frágeis. Não compreendemos a razão de simplesmente trocar nossos círculos de amizade como trocamos nossas roupas.

Estamos frágeis, porque queremos estar sempre certos. Porque queremos manter sempre a nossa razão. Porque queremos a todo tempo mostrar que nós “nunca faríamos o que você foi capaz de fazer”. Porque nós nunca consideramos que também somos errantes – exceto quando o errado e o julgado somos nós. É quando dizemos “mas eu sou humano também e cometo falhas”.

Estamos quebrando nosso círculo de amizade porque passamos a considerar – inconscientemente – as pessoas substituíveis. “Errou comigo, não serve para mim”.

Na minha opinião, a base de qualquer tipo de relação é a confiança. E eu não sei exatamente se o problema sou eu, mas, ao meu ver, confiança não é como cristal, é como acrílico. Ele não quebra na primeira queda, mas trinca e não volta ao estado normal nunca mais. Entretanto, isso não significa que deva ser descartado.

Se um copo de acrílico é trincado, você não precisa jogá-lo fora, precisa apenas pensar sobre o que pode ser colocado ali dentro. Ao invés de suco, porque não virar a medida de arroz? E você saberá como conviver e lidar com isso até que o copo quebre de vez, SE ele cair mais uma vez.

Pensando dessa forma sobre a confiança, se ela for trincada, você não deixará de contar o que deseja, apenas passará a pensar melhor sobre o que é realmente necessário contar e o que é melhor manter guardado para si. Afinal, se você quer manter um segredo, comece por você.

Não exija dos seus amigos, aquilo nem você consegue cumprir. Se não quer ninguém saiba, permita que só você saiba.