O acaso é encontro ou desencontro?
Nem sabia ao certo que horas eram, mas o sol já tinha ido embora e o escuro da noite surgia no horizonte invadindo, aos poucos, toda a cidade. Os carros na avenida corriam contra o tempo e as pessoas iam e viam naquela correria, cada um seguindo a seu próprio alento. Era mais um dia de aula que se findava e Marcos vinha da universidade, quieto e pensativo, observando o mundo à sua volta, como sempre fazia ao retornar para casa. Queria saber como foi o dia de cada uma daquelas pessoas que via pelo caminho. Aquietou-se, irresoluto, pois não podia invadir o silêncio dos estranhos rostos que davam passos apressados. Naturalmente, continuou andando pela avenida, quando, de repente, avistou uma mulher de longe, baixa e magra. Provavelmente, era só mais um corpo que fazia caminhada. Pela saúde ou estética? Marcos não saberia precisar exatamente, mas era um ser que andava. Pareceu-lhe familiar e começou a encará-la. À medida que se aproximavam um do outro, a memória automaticamente lhe dava a resposta. Reconheceu a sua professora de Inglês do ensino fundamental e médio. Sorriu, alegre, por aquela surpresa do acaso. Mas, tudo aconteceu tão rápido que só foi o tempo de Marcos dizer apenas um “Oi, professora, tudo bem?” Ela o cumprimentou, sorrindo, e ambos seguiram cada um para o seu lado. Marcos queria ter parado e dizer à Jane o que havia feito após o colegial, que estava estudando numa universidade federal em sua própria cidade e, então, agradeceria a ela pela sua dedicação enquanto professora e todo incentivo dado. Todavia, não soube explicar a si mesmo o porquê de não ter parado. Pensou consigo que se qualquer um dos dois parasse, uma conversa ali seria iniciada. Porém, parecia que ambos estavam com pressa. Jane prosseguiu em sua caminhada, e Marcos; para sua casa, sem entender se aquilo fora um encontro ou um desencontro que o acaso havia lhe proporcionado. Ironicamente, percebeu que ele era só mais uma personagem da correria que vinha observando. A cidade já estava inteiramente coberta pelo manto escuro da noite, a qual seguia o seu curso calmamente. Na avenida, carros, motocicletas, bicicletas, pessoas, a professora de Inglês da época do colegial, e Marcos, estudante universitário, todos em seu passos rápidos, andavam juntos, mas dispersos, até sumirem pela multidão na poesia desconexa daquela correria noturna.