A cobiça minha
Livros e revistas, tínhamos poucos. Dava até pra contar nos dedos. E eu pelejo para relembrar os títulos, as formas, mas não consigo chegar a uma contagem convincente. O rei deles era o dicionário.
Que papai ganhou num programa de radio. Respondera a uma charada e lá veio aquele catatau como presente.
Por fim, de tanto manuseio se lhe rompeu a lombada. Papai fez uma capa de brim, costurada, muito bem encaixada. Nos registros das palavras que a gente mais procura num dicionário, como criança, estão lá as marcas e rabiscos característicos. Obra da mana Vitória, ou vitória da obra?
Outras publicações: Almas Infantis, ilustrado por Luiz Sá, um compêndio sobre a educação infantil. Riamo-nos com os desenhos, caricaturados.Chácaras e Quintais, Cultura dos Cítricos e pouca coisa mais.
Depois vieram os livros da Vitória, que ela não deixava ao nosso alcance por razões obvias. Mas tínhamos acesso aos cadernos das mães que ela mesma preparava. tão bem-feitinhos que mamãe os guarda até hoje.
E tinha também algumas revistas do SESI, chamadas O Sesinho. Fininhas, eu me encantava com elas, ainda que só raramente nos chegassem às mãos.
Dona Iria, diretora do grupo escolar então, tinha a coleção completa do dito Sesinho. Bonitas, empilhadas num guarda louça transparente que em sua sala de visitas mantinha. Mas maior zelo ainda tinha era com a sua chavinha. Que nem ligava pra cobiça minha.