A Mecânica das Mãos
À noventa e sete quilómetros de África, perto da província de Ku-wanga, vivia uma pobre família, numa autêntica miséria. Como muitas outras famílias do gueto, esta passava momentos de tremendo horror e molesto sofrimento, sem alegria e muito menos felicidade. Esfarrapadas e semi-nuas as crianças da família Thombo viviam de migalhas soltas pelo bairro Xitapilangongo e pela venda de bolinhos de óleo que mamã Thambiya fazia todos os dias para o sustento das únicas duas crianças, que ela amava com todo o coracao. Thumbi, a miudinha mais nova da família, tinha apenas 4 anos de idade quando aprendeu a vender bolinhos de óleo no ano passado, enquanto Khofi, o irmãozinho mais velho de Thumbi, menino de 7 anos de idade, aprendeu a vende-los aos seus 3 anos de idade, logo que seu pai Mabékwa, morreu supostamente de malária. Em Xitapilangongo, ouvem-se rumores que Tombo Mabékwa, pai de Thumbi e Khofi, havia morrido de vírus de HIV / SIDA – mas, até hoje, não se sabe qual é a verdade – porque, antes mesmo de ir embora, queixava-se de sentir minhocas circulando pelo todo seu corpo. Até mesmo no 3 dias antes do seu triste desaparecimento físico, o corpo dele inflamava saindo pus e bichinhos – não se sabe na verdade de que doença pobre Mabékwa sofria. Mas sabe-se no bairro Xitapilangongo, que ele nunca denunciou o tipo de actividade fazia na vizinha África do Sul.
Os irmãos Thumbi e Khofi iam vendendo bolinhos de óleo todos os dias na “Rua dos Atabafados” bem mesmo próximo do mercadinho local do bairro. Pela mãe, os meninos eram obrigados a acabar de vender aquelas duas bacias de vinte litros bem cheias de bolinhos de oleo. Bacias essas que tinham 250 bolinhos de óleo cada, isto é, eles tinham que trazer para casa 500 contos, no final de cada dia. Caso os meninos não trouxessem 500 contos, eram macabramente espancados até estrebucharem todos.
De pés descalços e com “rasga-mantas”. Corpos pálidos e cheios de calos por todo lado. Lábios secos, magrinhos e com barrigas grandes por malnutrição. Cabelos enrolados, despenteados e farrapos rotos que cobriam seus magros corpinhos. Os meninos saíram às ruas, no dia 13 de Setembro de 1901, à procura de mais um quinhentos contos. Naquele dia, os meninos só conseguiram vender 7 bolinhos que equivaliam a 3 contos e cinquenta centavos. Desgastados e cheios de medo de levar mais umas bofetadas da mamae Thambiya por não terem conseguido os 500 contos, decidiram sentar num tronco à beira da estrada e pensar numa ideia astuta para salvar suas pálidas peles:
“Oh! Que azar!” Disse Khofi
“Mano! O que vamos fazer agora?” Thumbi Perguntava
“Mana! Vamos fugir para África do Sul. Talvez vamos encontrar titia Mbandi lá!”
“Não é boa ideia mana, a mama irá ficar preocupada com a nossa fuga” Replicou Thumbi
“…eish!...” Exclamou Khofi
De tanto cansaço, sete minutos, depois de tanta deliberação sem solução, os meninos caíram de sono. A mãe, que já conhecia todas as esquinas de Xitapilangogo, preocupada com a demora dos seus filhos, decide ir atrás dos meninos. Não tardou. A 500 metros do local onde vendiam os bolinhos de oleo, viu-os deitados naquele duro tronco.
Khofiiiiiiiiiiiii! Gritou a mãe Thambiya
Os meninos, bem assustados, levantaram-se muito rapidamente e começaram a correr em direcção da África do Sul. Mas, bem antes de atravessarem a estrada, parava um Mini-Bus de vidros fumados, supostamente de raptores de crianças, que os levou embora. Magoada a mãe Thambiya, formava drenagens de lágrimas no seu pobre rosto. Sem vontade de viver, so pensava em tirar –se a vida – mas com consolo e carinho dos vizinhos, esqueceu se dessa ideia brutal. Thumbi e Khofi, longe do carinho da mamae, e de maus tratos que viviam na família do Senhor Thomas que os tinha sequestrados a 15 anos atrás, fugiram a procura de caminho que os levava a casa. Perderam se pelas avenidas de Joanesburgo – sortudos, acharam uma família que lhes empregou. De lá trabalharam 5 anos e conseguiram o suficiente para o sustento. Dois anos depois do nascimento daquele que viria a ser ícone de Apartheid “Nelson Mandela”, Thumbi e khofi aos 23 e 26 anos de idade respectivamente, retornaram a casa. Xitapilagongo ficou parado vendo os dois jovens lindos e cheirosos descendo dum Mercedz Benz cheio de fortuna indo a direccao da casa da mãe Thambiya. Cinco minutos depois Thambiya já aos 50 anos de idade, sentia um arrepio por todo o corpo – mesmo gordinhos e crescidos os filhos Thumbi e Khofi, a mãe Thambiya reconheceu –os. Cheia de alegria e orgulho de ver os únicos dois filhos que os perdia a 20 anos atrás, chamou aos vizinhos, fizeram uma grande festa que até hoje é lembrada na actual vila de Xitapilangongo. Com o regresso dos filhos a família Thombo viveu feliz para sempre até que Deus proporcionou-os uma vida eterna no paraíso.