Fumando pela primeira vez.

- Preciso de um cigarro!

Pensei no banheiro me olhando no espelho.

Aquilo já estava demais, sabe, tudo, a vida, a medíocridade que eu estava acostumada a viver, a dar satisfações às pessoas, a nadar e morrer na praia. Um vazio tão grande me preenchia e que tudo que eu fui capaz de pensar foi: ''preciso de um cigarro''. Eu nunca fumei antes na vida, acho que nem sei tragar, mas que se dane. Preciso de um cigarro.

Era bem noite na minha cidade que já havia passado de calma para vários marginais andando procurando presas fáceis.

Sai. Olhando para os lados todo o tempo. O bar mais próximo era a alguns quarteirões, logo eu chegaria. Passei por ruas movimentadas de pessoas bebendo e rindo. Virei a direita numa rua muito deserta, apertei mais o moletom no corpo enquanto se aproximava um homem. Ao passar do meu lado ele disse com a voz embargada pelo consumo de alcool: ''Gostosa!'' Argh! Reprimi a vontade de xinga-lo, sabendo que não adiantaria muito ou ele poderia tentar algo. Apertei mais o passo deixando o homem pra trás. Virei novamente a direita e lá estava ele, ''o bar do cigarro'', cheio de homens bebendo, mulheres dançando e rindo alto.

- Vende cigarro a vulso? Perguntei ao velho gordo que estava atras do balcão me olhando desconfiado. Eu estava visivelmente tremendo e suando, parecia estar numa expedição de caça.

- Sim, tem de 1 real, 1 e cinquenta e dois. Vai querer qual?

Eu não fazia ideia de qual cigarro era melhor, pra mim todos eram iguais então pedi dois de um real. Eu tinha levado uma caixa de fósforo para acender pois não queria gastar com isqueiro já que não iria usar novamente. Sai do bar com um cigarro na boca e outro no bolso. O vento me impedia teimosamente de acende-lo e eu tive que me esconder atras de um carro para tentar enfim fazer o cigarro soltar a porra da fumaça. Consegui. Eu me lembrei de uma vez que me disseram pra não engolir a fumaça, e era o que eu iria fazer se não soubesse, mas eu aprendo fácil e já tinha visto pessoas fumando então na primeira tragada eu acho que consegui não me engasgar. Puxei. Prendi. Soltei. Eu queria parecer descolada igual essas pessoas que soltam a fumaça pelo nariz, mas foi uma tentativa em vão. Puxa. Prende. Solta. Puxa. Prende. Solta. Eu fazia aquilo rápido demais, a fumaça estava indo em bora num piscar de olhos e eu definitivamente tive a certeza que não sabia fumar. Eu ia andando pelas ruas fumando ou pelo menos tentando e sabe o que passava na minha cabeça? Nada. Eu não sentia nada. Que droga. Isso é ridículo. Cheguei na minha casa com o cigarro ainda pela metade, terminei de ''fumar'' enquanto algumas pessoas passavam por mim olhando pois eu estava agora descalça claramente parecendo uma louca descontrolada que não sabe tragar. Terminei aquela coisa e fiz que nem as pessoas, afundei o resto do cigarro no chão e entrei. Tirei aquela roupa que fedia a fumaça, meu cabelo fedia a fumaça e minha boca tinha um gosto péssimo. Olhei no bolso da bermuda meu outro cigarro, o coitado estava partido no meio. Que inteligência minha colocar ele lá junto com moedas e celular. ''Por que não coloquei atrás da orelha como o Johnny Depp fazia aos 19? Iria ficar bem melhor''. Ah sim, porque eu não fumo então provavelmente essa ideia não fazia sentido pra mim. Entrei no box e comecei meu banho pensando em como fui estúpida, aquilo não me mudou em nada, não tirou meu tédio, minha tristeza, minha ansiedade. O que eu estava pensando? ''Ah vou fumar uma porcaria de um cigarro e minha vida vai melhorar?'' Santa ingenuidade!

Mas de uma coisa hoje eu tenho certeza. Nunca mais ponho aquela fumaça horrível nos meus pulmões, se é que ela foi para lá alguma hora.

Destiny
Enviado por Destiny em 08/10/2015
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