Janela

Da janela daquele quarto escuro, fico a observar a rua.

Os carros passando, os mesmos transeuntes de sempre, pessoas com olhares vazios, carregando suas sacolas cheias de compras.

Eu de fato pouco me importo com todos.

Fico imaginando se quando sou eu o caminhante nessas ruas tão cheias e ao mesmo tempo vazias, se existe um outro alguém, que assim como eu fica ali, observando e me julgando, igualzinho eu gosto de fazer.

Talvez todos nós tenhamos costumes estranhos no que se trata de solidão e observação. As pessoas gostam de se julgar entre si, e esse meu bom hábito de observar o tedioso cotidiano de pessoas que andam é o meu próprio exercício de estranheza.

Gosto de me projetar nessas pessoas. A forma que você age quando acredita não estar sendo observado por ninguém é de certa forma fascinante. Cigarros são acesos, celulares sacados, e a forma mecânica com que esse tipo de coisa acontece reflete diretamente o tipo de sociedade em que estamos imersos. Ninguém se olha. Ninguém sorri. Pessoas não são indivíduos, apenas números.

Mas aqui, do alto da minha janela, eu consigo ver a todos. E até consigo considerar alguns como humanos.