O Menino Infrator !!
A multidão esmagava violentamente a carne do pequeno infrator, Sérgio era seu nome, não havia compaixão, todos enfurecidos, insanos, queriam aproveitar a oportunidade e espancar o projeto de delinquente, fariam a justiça que o Estado não foi capaz de realizar e ao mesmo tempo saciavam o desejo sádico fruto de uma vida sem perspectiva, o linchamento era satisfatório, ao cortar a carne do menino descontavam a ira de uma existência frustrada e sem oportunidades.
O garoto deitado no chão implorava por misericórdia, o sangue jorrava e abandonava seu corpo frágil, o rosto estava deformado com tantos hematomas, olhos pulando da cavidade ocular, crânio esmagado, o braço quebrado em vários lugares devido a pauladas pouco carinhosas que os moradores da comunidade aplicavam.
Enquanto Marcela falava ao celular com o namorado, combinando seu destino para o fim de semana, Sérgio aproveitou a distração para com uma arma de brinquedo abordá-la e roubar seu aparelho, Marcela gritou, um grito tão agudo que chamou a atenção do bairro todo, logo Sérgio era perseguido, derrubado, espancado e morto.
Uns se ocupavam de bater no braço, outros mais ferozes pisavam na cara o que transformava o rosto do infeliz em uma massa de carne, lembrando uma almôndega, chutes, socos, pedras, era a barbárie, o caos, não houve chance de defesa, uma morte lenta e dolorosa.
O irônico disso tudo é que os supostos justiceiros se transformaram também em infratores, pois exercício arbitrários das próprias razões também é crime, o fazer justiça com as próprias mãos é proibido pelas leis do Estado Democrático de Direito, logo naquela triste cena não haviam mais inocentes, todos eram criminosos, todos culpados.
Ao roubar o celular da vítima, o adolescente de 15 anos decidiu por isso, passou a ser um criminoso, que deveria ser julgado de acordo com as leis, porém como elas são brandas, a população se revoltou e achou que justiça era esmagar a cabeça do coitado com pisões até a morte, um ato lamentável e covarde, já que quem deveria ser espancado, torturado e sangrar até morrer são os autores das leis, mas estes ao contrários não são punidos, mas respeitados e idolatrados.
O ato de roubar não é louvável, mas o linchamento também não, todos erramos e todos merecem uma segunda oportunidade, usar a arbitrariedade e a justiça com as próprias mãos além de ser ilegal pode acarretar com a punição indevida de inocentes, pois não há chance de ampla defesa, contraditório, pode acontecer com você, com um amigo, sem julgamento adequado ninguém está isento de ser condenado injustamente.
Era o terceiro roubo de Sérgio, das outras vezes teve sucesso, desta vez a sorte não lhe ajudou, não terminou a vida como um mártir, como um herói, mas seu triste fim foi responsável pelo contentamento, pela satisfação, pelo senso de justiça de uma população que vê na brutalidade a maneira mais correta de punir, de educar, após a morte do menino, Seu Alarico, dono do bar em frente ao linchamento comentou com Seu Pedro:
- É, este não rouba mais.