O VENDEDOR E AS BALAS
O vendedor de balas entrou no ônibus quase lotado. Ele olhou para o semblante dos passageiros. Todos se mostravam indiferentes diante a sua presença. Alguns olhava para os lados, outros fingiam uma sonera, e uma pequena parte esperava o discurso daquele "invasor" da sua condução. O silêncio foi quebrado pela voz rouca do vendedor que recitava um versículo da Bíblia. Este era o primeiro argumento para vender o seu produto. Ele garantia que a venda do pacote de balas não era o objetivo daquela visita ao ônibus. A meta era disseminar a palavra divina. Mas repassava de mão em mão o produto a ser vendido. O vendedor contou que estava desempregado e não encontrava outra ocupação, senão a venda daquelas balas doces. Mas o veículo coletivo enchia a cada parada. As pessoas corriam para os assentos vazios, e o corredor apertada-se cada vez mais. O vendedor lamentava a pouca atenção dada pelos passageiros. Ele bateu os pés, gritou insistentemente, e nada. Então recorreu ao argumento dos filhos pequenos que deixara famintos em casa. Todos precisavam do seu apoio, juntamente com a sua esposa grávida do décimo herdeiro. Está tática não funcionou naquele momento. Então lembrou-se de outra técnica. Ele mostrou um ferimento em sua perna, que aparentemente não cicratrizava e parecia inflamado. Mas na verdade era uma maquiagem representando um corte profundo. Os passageiros o olharam estupefatos. Os olhares estaticos demonstravam surpresa com a imagem do ferimento horripilante. Uma estudante fingiu um desmaio. Uma idosa ameaçou o homem com uma bengala. O corredor do ônibus ficou livre diante da aproximação do "doente" aos passageiros assustados. Após algum tempo, a calmaria voltou naquele sacolejante veículo coletivo. O vendedor ainda não conseguira o seu objetivo. Por isto, apelou para uma derradeira tentativa. Ele afirmou que parte de seus lucros iria para instituições carentes. Os passageiros o olharam com um semblante de pena e compaixão. Alguns ensaiaram um choro quase ao mesmo tempo. Todavia, a voz do trocador exigindo um documento de um deficiente que entrara no veículo coletivo naquele momento desviou a atenção dos presentes. O vendedor perdeu a paciência e explodiu a sua raiva. Ele sacou um revólver, apontou para os passageiros e disse: -Vocês tem duas escolhas agora, ou aceitam as balas doces, ou balas de chumbo!. Neste instante, ouviu-se um tilintar de moedas no chão. O estoque de balas doces esgotou-se em poucos segundos. Este gesto obrigou o vendedor a descer rapidamente do ônibus. Logo ele pensou: - Hoje foi um dia produtivo, vendi todas as minhas balas, que povo generoso!. E saiu assobiando a sua música favorita: "se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão..."