Uma leitura na praia

Acordou por volta das onze horas da manhã de uma quinta-feira, e devido à greve de sua universidade, e seus amigos estarem todos trabalhando ou estudando, tudo indicava que aquele seria mais um dia de puro tédio. Depois de dias seguidos apenas na frente do computador, pensou em alternativas que pudessem livrá-lo daquele marasmo. Lembrou que tinha acumulado roupa para lavar, mas logo descartou a hipótese, que atividade mais odiosa. Pensou em cinema, mas era uma quinta-feira, dia de estreias, ou seja, muito caro. Por fim lhe ocorreu a ideia que quando lhe veio à mente pareceu óbvia: praia. Estava no Rio de Janeiro, oras!

Levantou-se da cama e logo saiu para almoçar em um restaurante barato próximo de onde morava. Voltando, pediu uma toalha de praia para a dona da pensão, colocou um livro e o celular na mochila e partiu para Ipanema. Pegou o ônibus na Haddock Lobo com a Rua do Matoso, e logo já se viu diante da Central do Brasil na Avenida Presidente Vargas, passando pelo Aterro, pela Praia de Botafogo, por Copacabana, até que desceu na Praça General Osório, já em Ipanema.

Desceu em direção à praia, atravessando a Rua Prudente de Moraes e enfim chegando na Vieira Souto, na orla da praia. Desde que saiu do interior de São Paulo, sempre se impressionava com a avenida que só conhecia pelos jogos de banco imobiliário. Caminhando em direção ao mar, olhou para a esquerda e viu o Arpoador, símbolo da beleza natural da cidade; olhou para a direita e viu o Morro do Vidigal,

símbolo dos contrastes cariocas.

Já na praia, retirou os chinelos e sentiu a areia aquecer seus pés. Escolheu um ponto um pouco afastado dos outros frequentadores, – principalmente aposentados e vendedores de picolé e água de coco – estendeu a toalha e se sentou. Abriu a mochila, colocou os fones no ouvido, abriu o livro, e deitou-se na toalha usando a mochila como travesseiro e começou a ler.

O livro? Não importa. A música? Também não. Enquanto lia observava o azul à sua frente, impressionado com a imensidão do oceano. Depois de algumas páginas decidiu fechar o livro e desligar o celular. Contemplando a brancura da areia, o brilho do sol nas águas e o som ritmado das ondas, viveu uma experiência que nenhum compositor ou escritor poderia descrever.