O Mundo Pouco Encantado de Maria !!!

Quando Maria olhava ao seu redor não podia conter o desespero que sentia, todo dia era a mesma coisa, os olhares assustadores das pessoas de bens que passeavam pela rua condenavam seu estado sujo, ninguém a poupava, os poucos que demonstravam solidariedade não o faziam por ela, mas por puro egoísmo, uma maneira de mostrar ao entorno que eram misericordiosos e bons, mas se o ato fosse oculto, não o fariam, pois o que no fundo importa é a propaganda.

Viver nas ruas não é um paraíso, aliás ninguém projeta isso para seu futuro, mas para uma mulher é algo bem mais tortuoso, mais duro e sofrido, longe de qualquer vaidade, sonho de consumo ou programa de beleza, não há grandiosidade em se deitar na calçada, sem filhos, sem amante, só o chão duro para a carne macia.

Maria também gostaria de ter seu programa de regime semanal, desfrutar de boas viagens, gosta de flores e borboletas, mas não há tempo para isso na realidade hemorrágica de sua vida, para não dizer que é isenta de qualquer vaidade feminina ainda conserva o hábito de pintar as unhas, graças aos esmaltes encontrados nos lixos do condomínio Jardim do Éden, alguma madame não utiliza o frasco por inteiro e sempre sobra alguma coisa, e este resto é utilizado pela indigente, mas não é sempre que encontra algo, percebeu que com a crise as pessoas estão utilizando bem mais as mercadorias, está difícil encontrar algo que ainda possa ser usado.

Como toda mulher Maria tem ataques de ciúmes, vive brigando com Maicoln, seu namorado, seu amante, um viciado em crack que apesar de ter ainda 30 anos aparenta o dobro, com poucos dentes na boca e os poucos que restaram cariados e sujos, obviamente que o ciúme de Maria é infundado, sem lógica, mas no coração de uma mulher apaixonada lógica é a última coisa a se encontrar, quem iria querer Maicoln? Não a critiquem, afinal ele é o Romeu de sua história, um príncipe nada encantado, pois não há encantamento na miséria, apenas realidade, que nem sempre é bonita, ao contrário, a maioria das vezes é mais fria que o gelo, mais triste que a morte e mais dura que o ferro.

Os piores dias para ela são os de menstruação, para uma mulher que tem as condições adequadas como casa, absorvente, chuveiro já é uma situação ruim, mas para uma moradora de rua é algo terrível, o sangue cai no chão, escorrendo por suas pernas, isso chama a atenção de quem passa, para esconder a vergonha se limpa com jornal, procura água para se lavar, tenta de todas as formas estancar, não é fácil, quase sempre coloca um pano sujo que encontra em latas de lixo, em lixos de rua e assim sente-se segura.

Para fugir desta triste realidade Maria entrega-se ao Álcool, às drogas, a qualquer tipo de produto lícito ou ilícito que lhe traga a sensação de fuga, é um ciclo, pois estas mesmas substâncias que lhe dão um conforto momentâneo são as responsáveis por sua miséria, sua condição precária e desumana, a primeira vez que experimentou álcool foi o começo de sua ruína.

Maria é uma mulher como outra, tem seus sonhos, suas vontades, sua vaidade, cometeu erros, mas quem nunca os comete? Tudo que busca nessa vida é a paz, já teve filhos, mas os perdeu, sempre lembra afinal amor de mãe é eterno, algumas mulheres lutam para emagrecer, mas Maria não, ela luta para ter o que comer, luta para conseguir um dia libertar do vício e ter de volta sua vida, mas no fundo sabe que talvez nunca consiga, e isso aumenta todo o seu sofrimento, sua dor, sua vida.

O_Interditado
Enviado por O_Interditado em 23/09/2015
Código do texto: T5392017
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