O AMOR NOS DEIXA CEGAS

Existiram momentos em que eu me acordei e não o vi ao meu lado. Então eu me lembrava… já fazia alguns dias que ele não partilhava a mesma cama comigo. Nossa, estava difícil de eu me habituar com isto. E era também comum eu ficar na cama, enrolada nos meus lençóis, criando coragem para fazer as coisas mais simples da vida: escovar os dentes, arrumar meu cabelo, colocar uma roupa decente para ir trabalhar e não aqueles trapos fuleiros que comecei a usar depois que ele pegou a sua malinha e desapareceu pela porta da frente.

Mas quando não havia mais jeito mesmo, eu me via obrigada a me levantar da cama para ir até o meu emprego antes que eu fosse para a rua por justa causa. Bebia meio copo de leite, com meia fatia de pão e não adiantava virem me dizer que “cruzes, você está secando” ou “Lia, este homem não merece o seu amor e nem sua vida”. Nada para mim adiantava. Eu circulava a esmo pelas ruas, pelos corredores, por entre pessoas, tendo acima de mim o mesmo céu deserto, um céu que antes era de sol ardente 24 horas por dia e que agora… agora não era mais que realmente um céu cinzento.

E neste estado lamentável eu vivi por semanas a fio, perdida do mundo, em trânsito entre o passado e o presente, sem lembrar que poderia existir um futuro bom, logo ali, a dois passos de mim. Dizem que o amor cega as pessoas. Eu fiquei sem enxergar antes, durante e depois. Fiquei paralisada por um amor que nunca me mereceu. Vivi para um homem que tanto fazia para ele se eu estava bem ou se eu estava à beira da morte. Amei tanto que me esqueci de mim. Depois que ele se foi, eu não sabia nem mesmo onde eu estava. Me anulei por causa de um cara que nunca valeu as lágrimas que eu derrubei por causa dele. Por que fazemos isto conosco? Fico me perguntando quantas mulheres por aí não levam no peito a mesma sensação de fracasso, de rejeição e coração partido por estes trastes que aparecem nas nossas vidas e que a gente ainda insiste em se apaixonar.

Mas sabe, têm momentos na vida da gente que o sofrimento também cansa de ver a gente sofrer. Então ele vai embora, vai a cata de outra alma para se encarnar e nos deixa livre para tentar de novo um outro amor, quem sabe algo que valha a pena. Então o que era um céu deserto se transforma em dias de sol, em noites de estrelas com mensagens de um futuro bom. Assim, fica mais fácil levantar de manhã, escovar os dentes, ajeitar o cabelo, colocar uma roupa legal e sair pelo mundo. Nunca nada está perdido. Nada mesmo.

Patrícia da Fonseca
Enviado por Patrícia da Fonseca em 24/06/2007
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