A porta
Já havia passado um bom tempo, cerca de uns dois meses, desde que Mauro, filho da D. Marta viúva do Seu Dirceu, tinha instalado uma porta no quarto da casa da D. Gertrudes, viúva do Seu Manoel, agora amigada com o Plínio que nada fazia a não ser jogar bocha. A porta, que Plínio não instalara, pois estava ocupado numa ferrenha e decisiva partida do campeonato da 3º divisão da cidade, estava rangendo. Cada vez que D. Gertrudes, genitora do Carlitos, cujo nome homenageava o grande cineasta, encontrava o Mauro, pai da Luiza que cursava medicina e namorava Carlitos que cursava direito, mencionava o ranger insistente que a porta e Mauro, prometia conserta-la.
Às vezes no meio da noite, D. Gertrudes acordava, e ao sair do quarto, alertava o pai, Seu Honorato viúvo da D. Maristela, que dormia num sofá na sala. Porém não acordava o Plínio, este dormia como um bocha, digo, uma pedra. Assim passavam se os dias um após o outro, e outro após o outro, e mais outro após este outro, e mais outro, e nada do Mauro aparecer para consertar a porta que continuava a ranger acordando Seu Honorato, enquanto Plínio dormia como uma pedra cansado de jogar bocha o dia todo.
Até que um dia, talvez de janeiro, ninguém lembra bem ao certo, Mauro resolveu aparecer na casa da D. Gertrudes para consertar a bendita porta. Estava um calor insuportável, Plínio não estava jogava bocha no bar do Seu Nicanor, Filho da D. Marcelina e Seu Adamastor. D. Gertrudes estava sozinha em casa, usava um shortinho minúsculo, parecia uma menininha, apesar de seus quarenta e poucos, ela não revelava a idade, mesmo sob tortura, estava, como dizem, em forma. Apaixonaram-se. Não chegou a ser assim uma paixão á primeira vista, dizem na cidade que foi a longo prazo.
Houve uma grande festa na cidade, enorme para aquela pequena e pacata cidade, que ao menos neste dia saiu de sua rotina normal, foram três casamentos. Mauro e D. Gertrudes, Seu Honorato e D. Marta, além de Carlitos e Luiza. Plínio, não falou nada, pois se envolvia numa disputa de bocha, depois disso Ele resolveu morar num anexo ao bar do Seu Nicanor. Dizem por aí que de lá só sai morto, outros, porém, afirmam que será enterrado lá mesmo sob a cancha.
Ainda hoje a porta range, mas não acorda mais o Seu Honorato, que foi morar noutra casa. Mauro, que nada faz, nem joga bocha, não conserta. D. Gertrudes está pensando em chamar o Anselmo, filho da D. Setembrina e pai da Genoveva, mas Mauro não permite. Sabe-se lá. Prefere não correr riscos.