O Perdão de Nicanor
Soube pelos amigos que Naninha , sua cola, havia pendurado o número do telefone diante dos mais vistos e conhecidos elementos do lugar.
Ainda crente na fé de que ela saía só para ver o vento, resolveu trazer na luz a situação deflagrada em vergonha de bar em bar.
Fez promessa para São Camaleão, pedindo um espelho que pudesse manter sua face na reta de Naninha para que ela não percebesse o plano das trevas que lhe saía das entranhas do ódio mortal.
Prometeu casar-se com ela e então "tumorá-la" com a culpa, com a raiva e com o medo, trinca que funcionaria bem nas mãos dele traído, enraivecido pelas revoltas dos verões em pouca roupa que a adornaram.
Levou suas vestes de praga ao altar mais sincero e nela só procurou desculpas para sofrer, sem nunca lhe revelar o tanto que de seus vícios sabia. A esposa dormia sorridente imaginando a sorte que a mantinha ilesa do passado tão movimentado em braços e cheiros diversos, quase uma coleção de amores.
Nicanor jurou ser triste e com seu fel brindar Naninha ante o perdão falso que oferecia. A decadência em plástico de hospital pendurado marcando gotas descompassadas, mostrava que sua vida em nada lhe servira. Passou mais uma noite de escombros nos olhos . Cochilou e sua musa partiu...