O ATENTADO
O prefeito Antonio Passos, ou "passinho" para os amigos, era um homem de modismos e cacoetes. Toda vez que inaugurava uma nova obra em seu município, batizava com o nome de algum parente dele. Os dois mandatos não foram suficientes para homenagear toda a família do prefeito. Por este motivo, ele estava apreensivo com a chegada das eleições municipais. Ele não sabia se o próprio sobrinho conseguiria vencer o certame. A sua popularidade estava em baixa. A vitória de seu candidato estava ameaçada. Então o prefeito fez conchavos com alguns políticos da oposição e ainda tentou comprar apoios de pequenos partidos. O pleito municipal se avinzinhava, e o prefeito não conseguia dormir à noite. Durante o dia ele vivia nervoso. As sua ações matutinas resumia-se na conferência das pesquisas, e convocação de assessores. Nos bairros periféricos "Passinho" junto com o seu sobrinho abraçava criançinhas, beijava idosos e moradores de rua. Ele seguia todas as recomendações dos marqueteiros mais famosos do lugar. O prefeito também recorria a esposa para organizar reuniões na associação de mães da cidade. Alguns vereadores opositores atacavam "Passinho" por todos os lados. O adversário do candidato do prefeito denunciava abuso de poder, desvios de recursos e nepotismo na gestão municipal. Mas tudo isto fora negado pelo gestor municipal. A rádio difusora da cidade também combatia os desmandos de Antonio Passos. No entanto, a Gazeta Ararauana divulgava algumas obras fictícias da administração municipal. Toda a divulgação fora paga religiosamente pelos erários municipais. As pesquisas apontavam a vitória da oposição. Mas a assessoria do prefeito não reconhecia os dados divulgados. Os ataques se intensificaram às vesperas da eleição. Os partidários da oposição brigavam com os cabos eleitorais da oposição. Houve tumultos por toda os recantos da cidade. Mas aconteceu um fato estranho na véspera do pleito municipal. Um transeunte jogou uma pedra na vidraça frontal da casa do prefeito. Houve um rebuliço, corre-corre, e gritaria por toda a vizinhança. A primeira dama solicitou ajuda à polícia que chegou imediatamente. Os oficiais de polícia prenderam um morador de rua, e o consideraram culpado pelo "atentado". O prefeito considero "um atentado à liberdade de expressão", e incitação à violência. Tudo isto foi divulgado devidamente nos programas eleitorais do candidato do prefeito nas rádio e nas tvs. A eleição ocorreu tranquila, e o seu resultado foi favorável ao prefeito "Passinho". A margem de votos do sobrinho do prefeito foi muito grande perante ao candidato da oposição. Na prisão, o morador de rua não entendeu a sua detenção. Ele ficou também surpreso com o montante de notas graúdas no bolso de seu paletó velho. E assim pensou: - Que sortudo eu sou!. Dormi na calçada da casa do prefeito, acordei no conforto de uma cama quentinha da delegacia, comi de graça e ainda rico. Que sorte a minha!