Tecelão das palavras

Certa noite, Tarquínio tomou assento em sua escrivaninha, acendeu uma luminária e pegou algumas folhas do calhamaço papel além de uma caneta esferográfica de tinta preta que estavam dentro de uma gaveta do referido móvel. Começou a fazer rabiscos sem forma, murmurando trechos de sua preferida quinta sinfonia de Bethoven, que pôs em baixo volume no seu rádio. Esta era sua ritualística antes de compor qualquer obra de natureza literária. Mil ideias povoavam sua mente, porém se achava esgotado devido extensiva rotina de trabalho. Para recobrar as energias, apoiou por um breve instante sua cabeça sobre suas mãos e seu juízo martelava-lhe na busca de inspiração para escrever mais um capítulo de seu livro que talvez nunca seja lançado. Em um dado momento, veio-lhe um insight e tipografou as seguintes palavras: "...e buscando a felicidade para além do rio de lágrimas, terás provado do fel, porém não te abaterás diante do medo e desbravará tuas dificuldades com serenidade". As palavras começaram a para o papel como um rio que flui passivamente ao encontro de uma cascata. Cada nota da composição deste grande gênio alemão lhe servia de inspiração para escrever mais e mais. As horas avançavam e o cansaço físico parecia ter se dissipado. Quando deu-se conta da realidade, olhou para o relógio e viu que eram quase três da manhã. Havia escrito 25 folhas de uma trama que não parecia ter fim. Os fatos se desdobravam em atos dignos de uma epopeia em tempos que pareciam não ser tão distantes dos atuais dias. Cumprira com sua missão para aquela noite e sem perceber, havia escrito a história da sua vida com outras palavras, outros contextos e outros personagens. Guardara aquelas páginas juntas as demais que havia escrito em outras noites de insônia, desligou a luz e foi ao encontro se sua cama. Rapidamente, ao encostar a cabeça em seu travesseiro, veio-lhe um peso em suas pálpebras forçando-lhe ao sono. E então percorreu uma longa jornada rumo à terra onde sonho e realidade se confundem. Onde tudo é perene, das dores humanas às alegrias divinas.

Caio Ferro
Enviado por Caio Ferro em 13/09/2015
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