- Natal-O Teste
O Teste
Era véspera de Natal, dia excelente para o teste. O combinado era que todos deveriam se reunir antes da meia noite no barraco da esquina da Rua Deodoro. Ponto reservado para o planejamento do esquema. O primeiro a chegar foi Zuca, o líder do grupo. Trazia um saco tipo esses de açúcar, com os preparativos para a ação. Logo, os outros garotos foram entrando e sentando no chão sujo ao redor do líder. Lero, Manu, Sarto e Téo, o garoto novato. O teste era para ele.
Téo tinha conhecido o grupo em uma balada, após beber mais do que podia e enfrentar Zuca em um duelo de garrafas cortadas. Perdeu. Ganhou dez pontos no braço e a admiração de seu algoz, por não ter amarelado ao combate. Desde aquele dia andavam sempre juntos nas baladas, bares e becos da vila. Téo não tinha intenção de voltar para casa, pois já estava longe a um mês daquele inferno.
-Como é, cara! Vai sentar ou ficar admirando nossas caras lindas? Perguntou Zuca, apontando um lugar para ele sentar.
Téo sentou-se no chão desconfortavelmente. Zuca tirou da sacola um pó branco, e perguntou:
- Sabe o que é isso, fedelho? Sabe né? É chegado a essa beleza?
Téo recusou balançando a cabeça.
- Vai amarelar... O rapaz é frouxo ou abestado?
- Abestado mesmo, respondeu Téo.
Deixa o cara, ele não quer essa droga! Tá no direito dele não gostar do pó. Melhor porque não temos que repartir. - Falou Manu, o caçula de todos, embora não aparentasse a idade que tinha, pois desde os cinco ano frequentava os becos da cidade.
- Vamos logo ao que interessa: o teste do nosso novo irmão. Planejei um trampo pra hoje mesmo. Sarto vai providenciar nosso transporte. Isso ele sabe fazer melhor que todos nós! - Disse o líder apontando com a caneta para Sarto, o especialista em furtar carros. O garoto fez sinal de ok com as mãos e saiu.
Lero, já rondou a área e sabe o local certo para ação. Há apenas uma mulherzinha com a filha e um cão. Ele vai cuidar do vira-lata. A casa é essa. Dá acesso ao terreno baldio da rua estreita. Vamos entrar e sair por ali. Apenas sinistro, nada de balas, porque não temos armas verdadeiras, mas levem arma branca. Vamos usar as de brinquedo que Lero trouxe do Paraguai. São muito parecidas com as verdadeiras, mas ninguém precisa saber disso.
Peguem o que puderem. Você novato, lidera o grupo. Ficarei esperando no carro. Quero coisas de valor, certo? O ano novo está chegando e temos muitas baladas pra ir, né galera?
Téo olhou o relógio. Eram 22h, pensou: Elas estarão dormindo. Quem bom. Não quero encontrar com pessoas nesse momento.
Sarto chegou com o carro, um chevete ano 94, todos riram. Isso presta Sarto? Falou o líder.
- Joinha, chefe... Legal mesmo!
- Tá na hora. Vamos cambada.
Saíram carregando máscaras, pistolas falsas, cordas e outros adereços para a ação. A casa escolhida ficava a duas ruas do barracão. Téo sabia quem morava lá. Conhecia muito aquela família. Mas não podia deixar que descobrissem a verdade. Seguiu apreensivo, pensando como seria aquele ato, primeira vez em um assalto a mão armada. Armada, pensou e riu.
Seguiram o plano. Entraram pelo murro que dava acesso ao quintal da casa. As portas estavam com cadeados, mas isso não era problema para Manu, o rei da chave mestra. Nem sinal do vira-lata. Lero já tinha sedado o pobre cão. Entraram na cozinha. Logo Téo percebeu que alguém estava conversando na sala. Fez sinal para que os outros não prosseguissem.
- Nada disso! O plano continua. Azar delas por estarem acordadas. Melhor para nós porque a diversão será boa.
_ Falou Manu, colocando a máscara e dirigindo-se violentamente à sala, já gritando: Nada de pânico, meninas. Papai chegou.
Na sala, sentadas no sofá estavam Lara e sua mãe, realizando as últimas orações da noite. Assustadas, não reagiram à fala de Manu. Téo logo interveio:
_Cara, o líder sou Eu! Meu teste, ok? EU quem mando!... E empurrou Manu para o canto da sala e evitava olhar nos olhos de Lara. Tentou modificar sua voz, pois, temia ser descoberto.
- Peguem só o que tem valor. Rápido!
- Lero olhava pra garota. Ele estava visivelmente sob o efeito do pó. Isso incomodava Téo.
- De repente, disse: Só as duas em casa, ninguém mais. Humm...
_ Você é bonitinha, piscou para Manu que afirmou com a cabeça. Puxou uma arma da cintura. Téo espantou-se ao ver que a arma não era de brinquedo.
- Que é isso Cara! O que vai fazer, não é esse o plano! Gritou Téo.
- Macho quem faz plano é Deus! Eu sou o diabo e gargalhou empurrando o novato ao chão.
- Bora Manu brincar um pouco, trás a garota. Apaga a mãe.
O pânico tomou o coração de Téo, não podia deixar isso acontecer, logo com Lara.
Olhou para as duas que choravam abraçadas sobre o sofá, pensava o que poderia fazer. NADA
Manu puxou a menina dos braços da mãe e a jogou no outro lado do sofá. Não grita, senão tua mãe morre.
- Apaga logo essa chorona! Sarto apontava a arma para cabeça da jovem senhora, que soluçava.
- Não! Eu vou com vocês pro quarto deixem minha mãe viva, podem me usar, mas deixem minha mãe. Gritou Lara
- Beleza, menina! Levanta.
Téo estava totalmente perdido em seus temores, e agora? Olhou para mesinha e viu a Bíblia, lembrou-se o que Lara tinha dito a Ele no primeiro encontro. “Essa é a chave para sua salvação”. Então fechou os olhos e pensou: Quem é a chave para sua salvação Lara.
Olhou rapidamente no relógio era meia noite. Natal. Viu a menina sendo levada escada acima por Manu e Sarto, mas antes de chegarem ao ultimo degrau, ouviram um coro.
- Téo olhou pela fresta da janela e gritou: Gente bora, sujou. Tem um bando de santinhos ai fora cantando.
Era o coro da madrugada, cantando hinos de Natal na porta de Lara. Todo o amo o coro se apresentava de porta em porta. Lara aproveitou e falou: Meu Pai chegou e trouxe convidados. Manu desceu as escadas largando o braço da garota.
_ Vamos já deu. Sarto pegou a sacola e saiu juntando os objetos que achava de valor. Apontou a arma para Lara e falou:
- Se gritar eu volto só pra te matar, nem que seja do inferno. Téo suspirou sabia que Lara não tinha pai, ele tinha falecido há poucos dias.
- Téo virou-se para empreender fuga. Olhou para o livro pegou e colocou na sacola. Lara não se moveu com olhar fixo observou que seu livro tinha sido levado.
O grupo fez o mesmo trajeto de volta. O líder esperava como combinado.
- Caramba! Que demora em um simples roubo? Manu olhou para Téo e falou: É que o abestado aí deu a ideia de pegar a garota. Gargalhou. Bateu no ombro de Zuca e falou:
- Vamos embora irmão, depois a gente te fala. Vaza.