Garota Perseverante

Era janeiro de 1979, quando ela resolveu dar um novo rumo a sua vida. De origem bastante humilde, aquela garota, jovem de 17 anos, cheia de sonhos, fantasiava sua nova vida, que estava naquele dia dando início. E começava a locomotiva a deslizar sobre aqueles trilhos, cortando o sertão norteriograndense. Levantava uma poeira indesejada, mal dava para observar aquela paisagem, pois não havia iniciado o esperado inverno e as árvores estavam ressecadas pelo intenso sol, tão peculiar naquela região. Já havia feito muitas vezes aquele percurso, quando ainda menina, mesmo a contragosto de seu genitor, viajava com uma tia que a amava muito, para passar férias em casa de parentes. Mas naquele dia era diferente, ela acompanhada de sua querida mãe, estava deixando aquela cidadela tão querida, tão amada; onde crescera, onde iniciara seus estudos; seus amigos, alguns parentes. Foi à última da família a mudar-se, os pais e os irmãos já haviam antecipado aquela mudança; ela já não morava com eles há bastante tempo, estudava e morava de favor na casa de parentes, que lhe auxiliaram bastante em sua educação, e agora estava buscando novas perspectivas para sua vida, em uma cidade de porte maior, onde novamente a família reunir-se-ia, almejava continuar seus estudos e trabalhar, necessitava muito, tinha seus pais e cinco irmãos para auxiliar e direcionar para uma vida melhor. Era seu maior sonho. Foram em torno de três horas de viagem. Os pensamentos eram como um turbilhão em sua mente. Quantos planos! A expectativa era muito grande. Conhecer novas pessoas, trabalhar, conviver novamente com seus pais e irmãos. Mas haveria de vencer! De repente seus pensamentos foram cortados pelo apito da locomotiva, que anunciava o final de linha, porque não dizer de trilhos. Enfim, chegara à cidade que a acolheria, possivelmente para todo o resto de sua existência. Dirigiu-se para seu novo lar, casa simples, que ficava em um bairro periférico, mas não importava, ela estava obstinada a enfrentar todas as dificuldades, sabia, seriam muitas, mas valeria a pena. Instalou-se junto aos seus queridos familiares, e começaram a nova luta, colégio para terminar o ensino médio, buscas por um trabalho... Passaram-se alguns meses, e surge a primeira oportunidade de um trabalho; um amigo da família conseguiu um trabalho como vendedora numa loja de departamentos. E assim passaram-se dois anos, trabalhava durante o dia e estudava à noite. Satisfeita, ela já havia dado seus primeiros passos; já conseguia ajudar sua família, mesmo com seus parcos recursos. Terminava seu ensino médio. Vislumbrava fazer um curso superior. Veio o período de vestibular, concorreu, passou. Fez um curso na área de economia. Começou a buscar uma melhoria em sua vida profissional; não estava afinando-se com aquele trabalho, era uma disputa acirrada pelos clientes, ela não gostava de tomá-los dos colegas. E só havia um jeito, mudaria de trabalho. E assim, começaram novas buscas. Surgiu uma oportunidade numa empresa de maior porte, ela foi indicada por uma amiga e fez um teste/entrevista, e a chamaram para trabalhar. Trabalhava o dia inteiro e fazia a faculdade à noite. Muitas vezes adormecia sobre os livros, porque tinha que estudar para acompanhar o curso, ou fazer trabalhos, que naquele tempo não havia as facilidades da atualidade – computadores, internet, etc. Finalizou o curso universitário. Pensava agora em passar em um concurso público. Estudava constantemente e tentava; passou em dois, mas não foi chamada. Continuou na empresa, já se afinava muito bem com o trabalho, já havia percorrido as mais diversas funções, e foi galgando promoções até chegar num nível considerado muito bom. Os irmãos já estavam crescidos, todos estudavam e começavam também uma vida profissional. A garota cresceu, levando junto sua família. Seus pais e irmãos puderam compartilhar daquele sonho que se transformou em realidade. Tudo é possível quando se tem um sonho, e esforça-se pela sua conquista. Deus concede a força para perseverar e vencer. E assim ela o fez!!