Meus adoráveis hóspedes 
       Reformei minha casa e pintei-a de amarelo. Não por estar triste ou deseperada, pois não acredito em crendices de que o amarelo é a cor dos tristonhos e dos desesperados. O amarelo é cor vibrante e muito me agrada aos olhos, assim como o vermelho.
      O pomar já tem aparência mais bonita, as goiabeiras floresceram, o coqueiro conseguiu empinar-se porque foi aberto espaço com a nova poda; assim ele deu o ar de sua graça.
       Consegui separar um pedaço  de quintal para minhas flores que já emprestavam com sua beleza o encanto àquele pedacinho de terra tão especial para mim. Animei-me e ornamentei a varanda da frente com casinhas coloridas para que  passarinhos fizessem seus ninhos.
       Os cães, alheios ao esplendor da natureza, saracuteavam de um lado pra outro, latindo para os transeuntes quando passavam por perto. Sentiam-se, com certeza, donos do pedaço.
       Num dia de sábado, surpreedi-me com minha cachorrinha com focinho inchado e sentindo-se incomodada com isso. Fiquei preocupada e fui ver o que tinha ocorrido. Avistei maribondos ao pé da mangueira que se deliciavam com as saborosas mangas. Compreendi, então, por que Mel estava de focinho inchado. Na certa, defendendo o que pertencia à sua dona. Frustrada fiquei mais ainda quando percebi que as casinhas colocadas para os passarinhos, estavam infestadas daqueles insetos malvados e predadores.
        Tratei de afastá-los como pude para que deixassem nossa  casa amarela em paz. Ao retirar as casinhas da varanda, descobri alguns ninhos que se misturavam às casas dos maribondos, feitos naquele lar destinado aos pássaros que por ventura, delas precisassem.
        Fui dormir triste e desencantada com o acontecimento. No entanto, logo logo, ao amanhecer, fui surpreendida por inúmeros pássaros cantando num fio  de rua perto de minha residência. Eram inúmeros e amarelinhos, parecendo ser canários. Umas gracinhas! Mas de onde teriam vindo? Por que cantavam à minha porta?
        Dias e dias se passaram, e os pássaros chegavam até minha porta, abrindo  seu canto para deleite meu  e ao mesmo tempo aguçando minha curiosidade.
         Dedetizei as casinhas ornamentais e as pendurei novamente na varanda, mas muito triste por saber que não poderia ter mais passarinhos, nelas fazendo ninho.
        E os meus amigunhos canários? Como ficariam? Com certeza haveriam de voltar para me alegrar as manhãs com seu lindo canto.
        Três dias se passaram e nada dos canarinhos. Amaldiçoei os impertinentes maribondos e mais amolada fiquei por ter tomado aquela atitude de dedetizar as casinhas.
       Numa tarde chuvosa e triste ouvi as cachorras latindo como se fosse de contentamento. Ninguém conhecido por perto. Qual seria a razão dos latidos?Olhei para o alto para verificar o escuro do céu, e percebi para alegria minha que os passarinhos amarelos  residiam em meu telhado. Estavam todos enfileirados, cada um ocupando um vão de telha.
        Minha casa estava mais linda e enriquecida na sua decoração. O bem vencera o mal, e eles, os canarinhos, já tinham o seu lar seguro.
         No dia seguinte, fui acordada bem cedinho com meus hóspedes abrindo seu canto para mim e para minha casa amarela.
         
        
Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 05/09/2015
Reeditado em 05/09/2015
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