A LOIRA
Tina não gostava do seu atual emprego. Vivia triste com a falta de perspectivas. Os tempos estavam difíceis. As opções eram escassas e a única ocupação que esta alagoana encontrou foi como garçonete. A carga horária desta trabalhadora era extenuante, principalmente nos fins de semana. As noites tornavam-se desgastantes a cada dia por causa dos bêbados agressivos e insuportáveis. O bar em que Tina trabalhava ficava em um lugar afastado da cidade. O Estrela do Mar atuava há vinte anos, e o seu histórico não agradava a sociedade conservadora do povoado de Birne. Mas este estabelecimento resistia a todas as administrações municipais durante estas duas décadas. O segredo de sua longevidade era o intenso trânsito dos políticos naquele ambiente. Os interesses entre o dono do Estrela do Mar e os vereadores tinham características similares. Os parlamentares procuravam diversão, e o bar abastecia uma clientela abastada. A fachada do local de trabalho de Tina apresentava cores desbotadas, anúncios de cervejas extintas, e as portas com imensas rachaduras. O balcão bolorento combinava com a decoração daquele recinto. Os copos mostravam o pouco asseio do lugar. Eles estavam amarelados pelas diversas cores das bebidas. As prateleiras demonstravam as opções de bebidas pouco recomendadas. Ali tinham vinhos de jurubeba, uísque falsificado, licores de jenipapo além da famosa aguardente de cana. Tina transpirava este ambiente triste e insalubra. Todas as manhãs ela acordava desanimada diante de mais uma jornada. Mas a alagoana lembrava do filho que tivera com um caminhoneiro morto em um assalto. A garçonete sabia da enorme responsabilidade na educação daquela criança. Isto a estimulava a caminhada daquela jornada. Os dias se passavam sem novidades. A mesmice se transformara em uma contante. Mas naquele dia de sol causicante ocoreu algo curioso. Um visitante estranho chegou à cidade. Ele era loiro, com olhos azuis, pele branca e umna cicatriz na orelha direita. O moço apresentava-se como vendedor de aspirinas. Transitava por todo o nordeste com a sua pasta exalando a medicamentos. Prescrevia receitas mirabolantes e mágicas. Considerava-se curioso sobre a medicina. Este loiro encantou-se pela garçonete dos cabelos desgrenhados e com avental velho. Ele gostou dos trejeitos, e requebrados daquela mulher. Eles namorram durante um mês. Este tempo foi suficiente para a formulação do pedido de casamento. Entre viagens e negociações do loiro, o enlaçe se consumou na Igrejinha do Carmo. Tudo mudou para a garçonete. Mas algo a surpreendeu no marido. O vendedor de aspirinas não tirava a roupa na frente da esposa. No entanto, ela descobriu o que o loiro apresentava um ponto em comum com relação a ela. O vendedor de aspirinas tinha seios e no seu documento de identificação era conhecida como Sara, a loira provocante. Pobre Tina.