Coruja
No meu bairro, tem um monte de bêbados na rua, sabe?
Eles tem apelidos variados: Tem o Salsicha, o 123, o Tubaína, o Coruja, o Seu Ailton, o Serebeu, o Bisnaga, entre vários outros.
O Salsicha, desde quando eu era adolescente, ele, entrega lixo na rua e sai empurrando o carrinho gritando: ''Salsicha!''
O 123, era um velho que andava cambaleando pelas ruas e se você enchesse a porra do saco dele, ele tacava lixo em você. - Ele era perneta, e usava uma moleta.
O Tubaína, tem uma história meio longa, bebe desde novinho, e era centroavante de um time de várzea daqui do bairro.
Uma vez, um olheiro do Corinthians, chamou o cara pra ir fazer teste, ele foi?
- Não. - Ele, preferiu a cachaça.
Eu tinha um puta medo dele quando eu era criança, mas ele, era um cara gente fina e é, até hoje.
O Seu Ailton, é pedreiro, tem mulher, filhos e, consegue sustentar seus vícios no vinho, mas todos os donos de boteco ficavam putos quando ele pedia fiado.
O Serebeu, era um cara metido a Cangaceiro, que bebia carquejo.
Bebida de cabra macho aquela, viu? - Só ele, aguentava aquilo.
Ele criava cavalos e batia na Serebéia, filha dele, toda vez que ela aparecia buchuda em casa.
O Bisnaga, é um filho da puta que batia na mulher toda vez que chegava mamado. - Puta cara chato, também.
E o Coruja, era um cara que vivia com sua bengala e com um gesso na perna esquerda. - Quando ele foi morar na rua, ele tirou o gesso.
A minha mãe disse, que, ele morreu esses dias. - É... Pelo menos, o Coruja, morreu sem o gesso.
Eu, não sei porque, as pessoas se preocupam tanto com quem tá lá fora bebendo cachaça e vivendo suas vidas.
Eu tenho admiração pelos mendigos e pelos cachaceiros, sabe? Pois, eles não se preocupam com porra nenhuma.
Não fazem a barba, não comem, dormem o dia inteiro compra seu Velho Barreiro, em paz, e pronto. - Acabou.
Se eles têm história? - Óbvio, que tem!
A maioria desses cachaceiros que vivem nas ruas, tem 4 filhos ou bem mais que isso, uma mulher esperando o papel do divórcio e, esperando a pensão alimentícia.
Garanto pra você, caro leitor, se um desses trombarem em casa, a mulher vai dizer:
- Por onde tu andou, hômi?! Pode ir pagar a comida das criança!
E é assim, que é o início, o fim e o meio de uma vida de cachaceiro.
O cara se casa, tem filhos, a mulher expulsa e depois, ele volta ou, não.
Deixa eu dormir agora, pois, tô me sentindo a Hilda Hilst no fim de carreira. - Cansado, mas com sensação de dever cumprido.
Só que, no meu caso, eu tô pensando já nas coisas que vou escrever hoje de manhã, à tarde, à noite e de madrugada. - O meu dever está cumprido, somente por ontem.
E já adiantando, amanhã, ou hoje, sei lá que horas são...
Vou aguentar aquela dentista chata pra caralho dando uma apertadinha no na minha contenção e só.
Dentistas são como pastores, comem o dinheiro da gente, por umas coisas que não têm nada a ver.
Mas tudo bem, foda-se. - O que eu quero é trabalhar.