UM SONHO BOM DE SONHAR
De repente despertei de uma noite de um sono profundo, em uma cama larga e macia de uma alcova ventilada pela ação da natureza. De-
vido a um vitral entreaberto, que permitira um raio de sol estender-se
em direção a meu semblante, virei para o lado. Entre uma nictação e outra, vi através das pálpebras embaçadas a sombra de um candelabro refletido no teto. Virei para o outro e senti um leve cheirinho de lavanda lançado por uma cortina que, de tão branquinha, chegava a ofuscar os olhos.
E neste clima preguiçoso de rola e enrola na cama, despreguei o
corpo da enxerga e fui em direção à janela, descerrei-a num só movi-
mento. Eis que uma golfada de ar exalada do puro frescor de rosas,
encheu o quarto restaurando-o do aspecto sombrio. Meio que embeve-
cido pela luz intensa, debrucei-me sobre o peitoril, meus olhos vagavam
em círculos imensos. Fazia uma linda manhã, fresca e cristalina; O sol
debuxada em dourado o píncaro das montanhas. Ao longe um flamboy-
ant mostrava-se sereno, mas algumas flores fugiam da ramagem e, em
vaivém, desciam soltas até beijarem o chão. E da frondosa pitangueira
um uirapuru silenciou os gorjeios dos pardais ao entonar seu mais divi-
no canto.
Tomado de êxtase extremo, desci ao jardim onde as falenas faziam-
me reverências com asas multicoloridas, e as flores desabrocharam em
meio a meu caminhar. Prosseguindo o passeio, parei no meio da pingue-
la para admirar as tilápias e trutas exibirem-se em nados sincronizados
no límpido espelho das águas. Por fim, cheguei à pérgula antiga envolvi-
da hermeticamente por trepadeiras, como se quisessem proteger as sa-
mambaias choronas do mal tempo.
De repente desperto de um sono mal dormido com o rosto suado e
a coluna encurvada, de uma cama ortopédica e estreita de um quarto a-
bafado de uma manhã poluída. Onde da janela só se vê motoristas lou-
cos em carros turbinados passarem velozmente. Esta sim é a real pai-
sagem de quem vive o dia a dia em cidade grande, onde o belo só é vis-
to nos sonhos, somente em nossos sonhos.
NOTA : Este foi meu primeiro texto, ainda no antigo primário. Minha
professora de Português me deu nota zero por não acreditar que essa redação fosse da minha autoria.
Naquela época fiquei inconformado com a atitude dela, mas hoje eu
a agradeço. Sem perceber, ela me fez descobrir a minha vocação.
Espero que vocês gostem.