CASA DOS BOBOS

Era uma casa muito engraçada... Apenas um sonho, sem planta nem nada. Ninguém podia imaginar que ali, no terreno vazia a casa ia surgir. Mas era feita com muito empenho, aos olhos do pai que sonhava e a mãe em desespero. A outra casa caia aos pedaços, era mofo, era mato, cobra, aranha e rato. E da janela eu via o pai subir tijolo por tijolo, na casa da frente que ia surgindo aos poucos, mesmo depois de chegar cansado do trabalho. Enquanto a mãe fazia arte na cozinha, quiabo do fundo do quintal, sal e alho. Eu lembro dos pais dormindo na casa nova, sem janela, no chão batido, com medo de bandido. Foi difícil despedir do quintal grande, goiabeira, eucalipto, pé no chão e eu dona do meu próprio país. E mudar para a casa grande, sem quintal onde a família unida jurou ser feliz. Foi então que a casa ganhou vida. Cheia de amor a casa se movia. Era jantar todos juntos na mesa, o pai queria silencio, a mãe queria surpresas, com 3 filhas em casa era difícil manter destreza. Com o tempo ate o pai entrou na farra, adolescência é fase boa, tinha filme, pipoca, fogão a lenha e broa. Guerrinha de travesseiro, frango todo domingo, as tarefas eram divididas e a casa era só sorrisos. Mas tudo na vida passa, passa o tempo, os sentimentos e só fica a casa. Eu já não via mais nada, cresci revoltada, a Bíblia lida em família na mesa já não me bastava. Agora era a casa quem via. Eu chegar de madrugada e a mesa vazia. Via a mãe chorando arrasada e o pai fingia que não via. E era ali no leito de cada um que os valores se perdiam. Não adianta confiar so na casa, não adianta segurar quem tem asa, não adianta fechar os olhos enquanto tudo desaba. O que o destino traça, não tem tempo que desfaça, não tem casa que abraça. O pai foi o primeiro a fugir da casa, mesmo sendo o ultimo a sair dela. Eu via o seu corpo vazio jogado na sala. A mãe que se ocupava, já desesperançada. Eu sai primeiro, fui descobrir que minha alma não tem casa. E apoiei quando a mãe largou o pai. A casa chorou, a alegria se esgotou. Agora era so o pai e a mesa vazia. Mas logo ele deu jeito de arrumar companhia. A mãe ainda sofria em outra casa vazia. Agora sem nada alem de duas filhas. Foi se virar para encher de amor um novo lar. E a casa, agora velha, se virou contra o pai, e não quis mais se encher de um novo amor. Perdeu a causa, perdeu a casa. Casa que ainda tem ego, pra onde vão todas aquelas memorias, os sentimentos e tanto esmero? Agora entendo a tristeza da musica, a casa dos bobos e o numero zero.

Daiane Alves
Enviado por Daiane Alves em 28/08/2015
Reeditado em 31/08/2015
Código do texto: T5362118
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