Uma de suas raivas.

A raiva dele era despertada pelos disparates dela. Mulher cheia de ideias, fazia previsões, dizia coisas sobre o futuro que desejava de acordo com as suas convicções, como o povo crente que tem a ousadia e a coragem de falar do que imagina ou do que diz crer. Na visão lógica dele, as coisas não deviam nem podiam ser como a mulher pensava. Uma coisa é se dizer que se está torcendo para que tal coisa aconteça, outra é ter a cara de pau de afirmar que tal coisa vai ser como se diz e impreterivelmente vai acontecer. Estava acostumado a ouvir aquelas besteiras de gente linguaruda e sem lógica, só não se acostumava. Aquilo era muito comum entre os torcedores de futebol, entre os amantes do chafurdo nas épocas de eleição. A prática de se apostar, de discutir, de exclamar que se tinha certeza de como seria o final de algum acontecimento era um enfado para ele. Suportava quando queria, mas por qualquer indisposição sua, se ia e deixava os bestas fazendo as previsões que ninguém conhecia.

Agamenon, Russas, 24 de agosto de 2015.