Dupla traição

Não deu mais para continuar. Não depois de uma traição como aquela. O marido retornou de viagem, cansado, fustigado, desesperançoso. Tudo o que queria era um ombro amigo, um pouco de colo, quem sabe. No entanto, ao chegar em casa, se deparou com sua esposa usando aqueles trajes indecentes. "Que falta de respeito, de consideração, de dignidade, de tudo". Ele não conseguia nem falar. Ele não gosta nem de lembrar daquela traição monstruosa. Ele não esperava por aquilo. Como ela pôde ter capacidade, minha senhora da querupita?

- Acabou!Não podemos mais ficar juntos. Não depois de eu descobrir isso.

- Desculpe amor. A carne é fraca. falou mais alto que eu.

Ela tentou argumentar. Ele não aceitou suas desculpas. Estava irredutível. Fez a sua mala e partiu, não quis nem saber. Estava de cabeça quente, inchada, dolorida. Foi para a casa dos pais.

- Minha mulher me traiu.

E se jogou no colo da mãe, chorou e contou tudo o que aconteceu. Ela deu razão para ele. Mãe é sempre mãe.

- Como ela pôde ter escondido isso de mim durante tanto tempo? Como fui burro...

No dia seguinte, ela ligou, tentou se desculpar por aquilo. Ele não quis saber.

- Tu me traiu no momento em que eu mais precisava de teu apoio. Me traiu pelas costas. Aproveitou que eu estava fora...

- Mas, benzinho, me dê uma chance de explicar.

-Nãodounãodounãodou!

E ele bateu o telefone na cara dela. Sentou, retirou a aliança e ficou lembrando de tantos momentos maravilhosos ao lado dela, aquela falsa. Não podia perdoar aquilo. Não esperava por algo assim da parte dela. Logo ela, que nunca tinha manifestado uma faceta dessas. Não esperava que ela fosse capaz disso, de esconder algo assim. Para ele, um gremista apaixonado e fanático, pior do que chegar em casa e descobrir que a esposa era colorada, foi ter flagrado ela vestindo a camiseta do Boca Juniors. Uma dupla (e imperdoável) traição.