O BANQUINHO


Éramos três amigos inseparáveis, três mosqueteiros em pleno século 20, tal era a amizade forte e sincera que mantínhamos. Um dia, a vida nos uniu através de Ana Maria (a nossa Anita), uma amiga comum que mais tarde deixaria a empresa. Logo percebemos uma grande sintonia entre nós. Carinhosamente, chamávamos uns aos outros pelo apelido de “Criança”.

Adelina, a Criança-Mor, era pessoa de riso solto, espontâneo, que semeava alegria por onde passava. A ela se uniu Edimar, que veio trabalhar na mesma seção, originário da fábrica. Adelina era farmacêutica, formada pela Universidade de São Paulo, e Edimar,  funcionário de serviços gerais. Essa distância hierárquica que, aos olhos dos outros, deveria impossibilitar a amizade, para nós jamais teve  importância.

Por último, eu me juntei a eles. Era secretária-executiva da vice- presidência. Tudo fluiu tão naturalmente entre nós que chegamos a despertar o ciúme de muitos. Não entendiam  por que éramos tão desapegados das escalas hierárquicas.

Para nós, o momento mais importante do dia era a hora do almoço. Não só pela refeição, mas pela chance de fazermos uma pausa. Sentávamos naquele banquinho em uma das praças arborizadas que havia na empresa. Ali não víamos os minutos passarem e conversávamos em plena paz sobre os mais diversos assuntos.

O banquinho ficava em frente a uma árvore centenária, cuidadosamente conservada pela área do meio ambiente. Havia também um gramado verdejante, com pés de manacá, canteiros de rosas e flores encantoras. Era o paraíso na Terra. Tirava-nos qualquer tensão que as atribuições do trabalho nos pudessem causar. Ali era nosso espaço, nosso oásis, nosso xangrilá.

Um dia, precisei deixar a empresa para viver em uma cidade do interior com minha mãe, que já chegara aos oitenta. Restaram ainda dois mosqueteiros. Continuaram a sentar naquele banquinho na hora do almoço e recordavam com saudade os tempos do nosso trio.
 Mas seguiam alegres e bem-humorados, pois era como se tivessem uma dívida de honra de não abandonar o prazer daqueles momentos.

Um ano depois da minha saída, foi a vez de a Criança-Mor, Adelina, buscar outros caminhos. Recebeu proposta para uma posição melhor em outra empresa e aceitou. Tinha que pensar na sua vida profissional. Ficou triste em deixar seu grande amigo, mas Edimar prometeu que não iria abandonar o banquinho, nem que fosse para sentar-se nele sozinho. Não deixar o banquinho simbolizava que a amizade dos três mosqueteiros continuaria inabalável. E assim foi.

Hoje, Edimar não está mais lá, e a empresa mudou de endereço. Mesmo distantes, continuamos mantendo viva a chama daquela amizade que adotou por símbolo um simples, mas indestrutível banquinho de jardim.

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Baseado em fatos reais.
Para meus amigos
Anita, Adelina e Edimar.

 

Texto convertido para primeira pessoa em 30/11/2022