O que aconteceu com Serginho?
Uma manhã como tantas outras. Dona Iracema coou o café e preparou a mesa para que os filhos se alimentassem e saíssem para mais um dia. Lucinha de catorze anos iria para as aulas no colégio e Sérgio, mais velho, com vinte e cinco anos, seguiria para o trabalho.
D. Iracema jamais imaginaria que nunca mais veria o filho querido, atencioso com a família, carinhoso com a mãe e a irmã e respeitoso com o pai, apesar das discussões,
Nesse dia Serginho como era conhecido pela família e amigos, surgiu na cozinha sem o costumeiro sorriso e somente com um paletó dobrado nos braços, colocando-o sobre uma cadeira. Vestira uma camisa de mangas curtas e uma calça jeans. O sapato dera lugar a um par de tênis e a gravata estava ausente. A mãe estranhou e perguntou:
- Você não vai trabalhar?
- Vou, hoje será um dia diferente, mais informal.
- Gostei, disse Lucinha, assim você fica menos sisudo, mais gato.
Sérgio sorriu, um sorriso triste que não passou despercebido pela mãe.
- Algum problema filho?
- Não, respondeu ele. Por que?
- Nada. Só acho que você parece triste.
- Não mãe, estou apenas cansado, não se preocupe.
Sérgio tomou seu café, pouco comeu e levantou-se. Beijou a irmã, a mãe. Pegou o paletó e saiu. Para sempre. O que teria acontecido?
Naquele dia não apareceu para trabalhar. Era gerente de um banco de investimentos. Uma espécie de corretor. Cuidava de grandes contas, com vultosas quantidades de dinheiro aplicado.
Alguns dias após o seu desaparecimento começaram os boatos. Houve um desvio de dinheiro aplicado com esquema complexo e milionário, detectado por auditores externos. O nome de Sérgio não apareceu nas denúncias. Então por que desaparecera?
- Eu tenho quase certeza que ele estava envolvido. Declarou Lilian em seu depoimento à comissão interna de investigação. Ele andava muito estranho, distante...
O problema é que a imparcialidade de Lilian estava comprometida. Ela e Sérgio foram namorados e ele a trocara por Márcia que havia trabalhado na empresa e saira devido à perseguição de Lilian. Estava parecendo mágoa de mulher abandonada.
Dona Iracema não tinha mais lágrimas. Chorava dia e noite .Dormia por exaustão e por efeito de calmantes. Achava que o filho estava morto. Assalto talvez. Mas, por que não o encontravam? Perguntava.
Lucinha resolveu acionar as redes sociais, inclusive sites de pessoas desaparecidas. Tudo em vão. Ou quase. Surgiram notícias de homens semelhantes à foto postada em várias partes do país. Desde um homem em Porto Alegre, até outros em cidades do Nordeste, Tocantins e Manaus. Tudo quase ao mesmo tempo. Nenhuma confirmação, seja pelas polícias locais ou qualquer outra fonte.
O pai de Sérgio, o Sr. Lopes, ou melhor, sargento Lopes, também entrou em desespero, entrando em contato com os antigos colegas de farda. Fora policial militar, o que sempre causara diversas desavenças com o filho, pacifista e considerado pelo pai com um esquerdista desprezível. Amava o filho a seu modo. Também nada conseguiu.
Márcia chamada a prestar depoimento à polícia estava desesperada, não acreditava no acontecido. Declarou que Sérgio, dias antes, acabou com o namoro sem um motivo sólido. Teria argumentado que estava confuso e precisava de tempo. Ela não concordara, mas ele foi inflexível.
Passadas algumas semanas, sem notícias do desaparecido, o Sr. Lopes mexendo em algumas coisas pessoais de Sérgio, ficou surpreso e confuso, ao mesmo tempo: havia um documento de transferência da escritura do apartamento que o filho comprara, para Lucinha. Ações de diversas empresa nominais à mãe e uma carta dirigida a ele, Sr. Lopes, pedindo desculpas pelas desavenças.
Nada mais se soube a respeito de Serginho, tornou-se mais um número nas estatísticas de pessoas desaparecidas.