Querido Adan 


 
 
O nosso querido amigo era um lindo cão da raça boxer e se chamava Adan, nome dado a ele por meu filho. Adan foi uma presença muito marcante na vida de toda minha família! Quando meu filho, que morava fora apareceu com ele, foi um misto de surpresa e apreensão, pois eu já sabia que não iria dar certo e que sobraria para mim, e eu estava decida a não ter outro cão em casa.
O último que tivemos, morreu aos dezoito anos, cego e doente de dar pena!
Então eu percebi que os cães por mais que vivam, duram pouco e que é muito triste quando eles se vão, pois aprendemos muito com esses animais que são puro amor e carinho, e a partida deles sempre é muito dolorida! Então eu prometi para mim mesma que não teríamos mais cães.
E agora aparece o meu filho com essa coisinha mais fofa, ele era tão pequeno que não conseguia nem subir as escadas da entrada e apesar da minha resistência, era impossível não se apaixonar por aquele animalzinho lindo!
Nessa época meu filho que acabara de se formar em arquitetura, trabalhava e morava em São Paulo e só nos visitava nos finais de semana.
A cada visita o cãozinho estava maior e mais danadinho, aos três meses ele fazia a maior bagunça e como ficava sozinho durante o dia enquanto meu filho ia trabalhar, ele destruía tudo, desde sapatos até os móveis, rodapés, carpete, enfim tudo o que era possível e que estivesse ao seu alcance.
Meu filho bem que tentou ficar com ele, mas não deu. Um dia ao chegar à casa dele, viu o pequeno Adan com a perninha quebrada, no mesmo instante ele o levou ao médico veterinário e infelizmente foi preciso passar por uma cirurgia no joelho e colocar pino.
Meu marido e eu tivemos que ir buscá-lo no hospital em São Paulo para se recuperar em casa, já que meu filho trabalhava e não podia tomar conta dele.
Eu já sabia de antemão que acabaria tendo que cuidar desse ciclone chamado Adan. Ele era tão afoito que eu temia que a cirurgia fosse comprometida e acabou sendo...
Ele fez tanta arte que o arame que segurava o pino se rompeu e teve que fazer mais duas cirurgias muito dolorosas, tanto para ele quanto para nós que víamos seu sofrimento, além de tudo, ele ainda tinha que usar aquele abajur horrível tirando a alegria dele e a minha também.
Confesso que fiquei muito brava com meu filho por ele ter tido a infeliz ideia de querer ter um cão em um apartamento, sendo que ele morava sozinho sem ninguém pra cuidar do animalzinho.
O tempo passou e ele finalmente se restabeleceu e apesar de tudo o que sofreu, continuava sapeca como sempre e aprontando mil artes.
Então conversei com meu filho e disse que ficaria com o Adan até encontrar uma família ideal que quisesse adotá-lo.
E assim ele foi ficando e bagunçando tudo dentro de casa, parecia uma ventania devastando tudo por onde passava! Sim, porque ele não gostava de ficar no quintal, já que estava acostumado a viver em apartamento e tinha um quarto e uma cama só pra ele!
Tirando as artes que ele fazia, era ótimo, muito carinhoso e gentil com toda família, principalmente com as crianças, com essas ele tinha um cuidado todo especial...
Todos os finais de semana eram iguais, quando meu filho chegava, era uma festa para o Adan, mas quando ele partia, o pobre cão ficava sentado por horas no chão da sala, olhando para fora e esperando que meu filho voltasse para buscá-lo, depois desistia e ia para cama triste e adormecia. No dia seguinte acordava todo alegre e arteiro outra vez.
O que ele mais detestava era a solidão, se eu saia, quando voltava, se ele não aparecesse para fazer festa, era porque alguma coisa havia aprontado, era incrível sua capacidade de fazer bagunça.
Nesse meio tempo apareceram vários candidatos para adotá-lo, mas nenhum tinha o perfil ideal que eu desejava para ficar com ele, e assim achei melhor desistir de doá-lo, mesmo porque ele já havia nos conquistado a todos e acabou fazendo parte integrante da família.
Ele era um cachorro lindo e imponente, com ares de aristocrata, um verdadeiro lorde! Fez a maior amizade com o carteiro e com a vizinhança, coisa rara num cachorro... Outra coisa que ele adorava fazer era jogar bola com meu filho, era um ótimo goleiro! Minha vizinha de frente, adorava-o, enfim mesmo com a sua cara de cão bravo ele acabou por conquistar a todos, pois era muito doce e amoroso...
Quando o Adan estava com dez meses, meu filho resolveu vir trabalhar por conta própria aqui na nossa cidade e isso foi à felicidade total para nosso querido Adan, já que ele tinha veneração pelo seu dono!

Continua...