A COR DA VIÚVA NEGRA

O homem caminhava pela rua olhando as mulheres no momento que uma delas era beijada por outro homem, e seu marido acabara de entrar em um prédio púbico, onde era funcionário. O homem que caminhava parou tentando decifrar as coisas, e já pendia para o lado sujo dos pensamentos, quando ainda mais lhe mexeu a cabeça o fato do beijo ter sido no rosto e por um homem pelo menos com mais trinta anos que o marido.

No ato da confissão o padre que lhe perdoaria, antes lhe deu uma penitencia por ter pecado por pensamento não entendendo que um pai pode e deve beijar a filha. Cumprida a penitência, tão curta, o homem caminha em direção da grande praça verde de esperança, amarelo desespero e o vermelho energético sobressaído nas flores, com ou sem perfumes. À hora que passou sentado ao banco sombreado pela frondosa Sapucaieira, de folhas rosa e flores lilás, serviu para meditar sobre o arco-íris que ao longe apareceu.

Em um mundo tão colorido ele vivia em preto e branco, como um televisor dos anos cinqüenta, quando o gol da seleção canarinho não foi transmitido com o colorido real, mas vibrado com cores surrealistas em frente milhares aparelhos de televisão ainda com válvulas quentes, que os levavam a serem ligados uma hora antes, para conseguir-se uma imagem melhor, não a melhor imagem! E o homem que não avançara no tempo continua a pré-julgar e encontrar pecados!

Era a mine-mulher de mine-saia, era a mulher graúda também com as coxas de fora, quase aparecendo às asas da periquita que levava em uma pequena gaiola, coberta de fino pano de corte enviesado. Era o padre sem batina que passava na praça parecendo um cidadão comum, sem fazer-se notar que era um homem de Deus, permitindo assim o abuso das garotas que o olhavam e diziam que era um pão, as que o conheciam o chamavam de "hóstia consagrada", com isso criando um desrespeito ao "Corpo de Deus”.

Mas tudo isto é parte do novo colorido da vida, e o tal homem não percebe que vive com a visão desbotada, como uma roupa bonita que lhe deixam um dia derretendo o colorido em água sanitária.

A meditação contemplando o arco-íris não lhe abriu toda a visão das cores, mas pelo menos naquela tarde conseguiu enxergar a viúva de poucos dias, ainda de olho roxo resultado do último soco que o ex-marido lhe dera, antes de morrer por ela assassinado. O homem pelo menos assumiu uma nova cor do mundo, e sem escândalo prendeu em seu coração com algemas perante um altar, aquela “viúva negra”!